Alexandre Duque Lourenço é Licenciado em Organização e Gestão de Empresas, pelo ISCTE de Lisboa e Master em Gestão da Qualidade, pela Universidade Politécnica da Catalunha.
Actualmente é Director Financeiro do Master Franchising da BodyConcept e Managing Director da Euroshare SGPS.
Do seu percurso profissional salienta--se ainda a sua experiência enquanto Gestor e Consultor especializado em diversas áreas do sector automóvel.
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Alexandre Duque Lourenço
“Estar actualizado e em constante aprendizagem é garantir as capacidades necessárias para ser um Director Financeiro competente”
Em Portugal há directores financeiros ou directores administrativo-financeiros?
Existem as duas funções, conforme a organização empresarial vigente. Em empresas de grande dimensão poderá fazer haver uma Direcção Financeira especializada com funções de carácter exclusivamente financeiro. No entanto, a realidade empresarial portuguesa remete-nos para um cenário de pequenas e médias empresas em que a “Direcção Administrativo-Financeira” assegura diversas funções, apesar de por vezes ser constituída por poucas pessoas.
O outsourcing dos serviços de contabilidade, e a consequente profissionalização inerente à realização externa desta função, também é um factor de alívio da carga de trabalho incutida numa Direcção Financeira, libertando os seus recursos humanos não só para a gestão financeira mais profunda e pormenorizada como também para o assimilar de novas tarefas, enriquecendo assim a própria direcção.
Como vê o exercício da profissão de DF daqui a 10 anos?
A função de Director Financeiro sempre teve (e continuará a ter) um papel essencial na organização e gestão das empresas. A um Director Financeiro pede-se a responsabilidade de gestão de um dos recursos mais importantes da empresa: o dinheiro.
Creio que a necessidade de bem gerir os recursos financeiros se vai manter e mesmo acentuar (graças ao aumento da competitividade) pelo que a profissão de Director Financeiro continuará a ser deveras importante no seio de qualquer organização.
No entanto, nos próximos dez anos, esta profissão manterá concerteza o dinamismo e exigência que a caracterizam pois existem diversos intervenientes que interagem com o desempenho da função, nomeadamente o Estado, com as suas alterações legislativas, os accionistas, com as suas expectativas de remuneração e desenvolvimento empresarial, os fornecedores, com novos produtos, novos serviços e novos desafios e, finalmente, os próprios clientes, com novas necessidades e maior nível de exigência.

Qual o impacto das tecnologias de informação e comunicação na actividade diária de um DF?
Felizmente para os gestores (de todas as áreas empresariais), as Tecnologias de Informação têm vindo a evoluir de forma formidável. Por exemplo, actualmente as fábricas de automóveis empregam uma componente tecnológica tão forte que o seu interior faz lembrar o interior asséptico de um laboratório farmacêutico. Mas essa componente tecnológica também é essencial na gestão das unidades fabris automóveis também pela óptica da competitividade dos seus produtos. Quanto mais tecnologia é utilizada mais produtividade é obtida.
Na Gestão Financeira passa-se o mesmo. As Tecnologias de Informação são uma grande ajuda na gestão dos recursos financeiros das empresas sendo este facto facilmente perceptível no dia-a-dia. Hoje, ninguém pensa em retomar o tempo das facturas manuais…
Actualmente, a utilização de Tecnologias de Informação já está num patamar acima: a Gestão. Por exemplo, para pedir uma simples consulta ou um mapa de Conta Corrente de determinado cliente apenas é necessário carregar num botão e tirar o documento da impressora.
No meu entendimento, a maior vantagem de utilização das Tecnologias é a possibilidade de compilação de dados, convertendo os mesmos em informação pertinente de apoio à decisão. Em avançados Sistemas de Informação à Gestão, conseguem-se relatórios mais específicos e complexos com uma facilidade incrível – imaginemos como seria a emissão de um relatório de vendas por canal de distribuição de uma empresa com mais de 50 mil clientes activos sem a utilização do sistema informático…
Mas numa época em que as facturas electrónicas já são uma realidade e as Contas Correntes são enviadas como ficheiro por email, algumas empresas já possuem sistemas de Business Intelligence, em que o acesso à informação processada é imediato, reduzindo o tempo de tomada de decisões e aumentando a capacidade competitiva.
A economia digital e o comércio electrónico são inevitáveis?
Na minha opinião, a economia digital, que se reflecte de uma forma comercialmente visível no chamado comércio electrónico, é algo muito positivo, mas sendo que não representa a salvação ou a desgraça anunciada das empresas.
O comércio electrónico não é um substituto do comércio tradicional ou do comércio moderno mas sim mais um canal de venda e comunicação com os clientes que irá funcionar em simultâneo com os actuais canais.
Esta evolução tecnológica traz novos desafios para os Directores Financeiros – pagamentos electrónicos, transacções intra e extra comunitárias… – que devem ser previstos com a entrada neste canal.

Quais as tendências que estão a marcar a actividade da gestão financeira?
Ao contrário das Ciências Naturais, a gestão financeira não é um mundo de novas descobertas. No entanto, existe sempre alguma evolução presente no nosso meio, quer ao nível académico quer ao nível prático.
A este nível, creio que actualmente existem três tendências nesta actividade:
a) Tecnologias de Informação – a preocupação pela rentabilidade, eficiência, eficácia e fiabilidade da informação leva a que as empresas procurem cada vez mais sistemas e tecnologia de informação mais desenvolvidos;
b) Transparência – a ética e clareza na gestão das empresas é uma tendência que se tem verificado desde os recentes escândalos financeiros dos EUA e de Itália;
c) Redução de Custos – em tempos de maior pressão sobre os resultados e menor desempenho comercial, a redução de custos tem sido o foco de vários gestores.
No dia-a-dia de trabalho, qual a sua grande preocupação enquanto DF?
Actualmente foco a minha atenção em três aspectos que me parecem fundamentais na minha organização:
a) Tesouraria: a gestão de tesouraria representa um desafio muito grande pois considero que em Portugal existe algum desleixo no respeito dos prazos de pagamento das facturas. Assim, muitas empresas financiam a sua actividade junto aos seus fornecedores, causando um processo de dificuldades de tesouraria em série, pois também as empresas credoras têm dificuldades em pagar aos seus fornecedores. Dadas as margens estarem esmagadas pela concorrência, a gestão da tesouraria acaba por ser uma área sensível na maioria das empresas.
b) Fiscalidade: a fiscalidade nacional é complexa apresentando diversas hipóteses legais que podem ser avaliadas. Assim, optimizar a gestão fiscal tem sido um trabalho contínuo que tem permitido algumas poupanças.
c) Custos: de uma forma simplista, o lucro é a diferença entre os proveitos e os custos. Tendo pessoas exclusivamente direccionadas para o cumprimento dos objectivos de vendas traçados no início do ano, tenho vindo a explorar a problemática dos custos. O desafio tem sido o emagrecimento mas eliminando apenas a “gordura”, assegurando a manutenção dos custos necessários para o bom funcionamento da empresa e dos custos referentes aos investimentos necessários para o crescimento sustentado. Esta análise está a ser efectuada minuciosamente e de forma transversal em toda a empresa.
As empresas e os negócios portugueses estão bem servidos de directores fianceiros?
A resposta a esta questão será sempre injusta para com os Directores Financeiros nacionais. Teríamos que definir e valorizar os critérios para avaliação de um bom Director Financeiro.
Assim, creio que o mais importante para qualquer bom Director Financeiro, tal como em qualquer outra profissão, é a experiência e formação da própria pessoa. A reciclagem do saber fazer e a formação em áreas específicas em que o indivíduo sinta maior necessidade são duas ferramentas que qualquer Director Financeiro deve utilizar para assegurar o bom desempenho da sua função profissional. Estar actualizado e em constante aprendizagem é garantir as capacidades necessárias para ser um Director Financeiro competente.
Assim, analisando a questão nesta óptica, julgo que os Directores Financeiros, tal como os restantes profissionais Portugueses, ainda têm oportunidades de melhoria significativas que podem levar a uma melhoria do nosso desempenho. Este factor é principalmente sentido quando os Directores Financeiros não têm formação base em gestão.
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