Actualmente a Parfois é líder de mercado em Portugal. O vosso crescimento tem inclusivamente dado origem a um aumento do número de lojas e à expansão física das lojas existentes. Qual a sua leitura para este crescimento em contra-ciclo?
O sucesso da Parfois, na actual conjuntura, está directamente associado à inovação que temos prosseguido ao nível do produto, do espaço de loja e do serviço prestado ao cliente. Relativamente ao produto, reforçámos a coordenação entre gamas de produto, tendo feito uma aposta muito clara ao nível do design, cores e qualidade dos materiais. Alargámos e remodelámos o espaço de loja, o que permitiu valorizar o produto oferecido, alargar as gamas de produto e reforçar a imagem de moda da Parfois. Ao nível do serviço de loja a aposta tem sido no reforço do atendimento e na oferta de um ambiente que estimule a experiência de compra na loja Parfois.
Outra estratégia ligada ao vosso crescimento é a da internacionalização nomeadamente para Espanha e Polónia. Porquê estes países? Sente que investir nesta altura pode ser decisivo para a sedimentação de uma marca?
Espanha foi o primeiro país onde avançámos com a internacionalização por lojas próprias, neste caso através de uma parceria. Desde 2007, com a abertura de uma loja em Madrid – na Calle Fuencarral – e mais recentemente, em Dezembro de 2008, na Calle Goya, também em Madrid, a performance do mercado espanhol tem evoluído muito favoravelmente, superando as nossas melhores expectativas. Apesar da conjuntura que a economia espanhola está a atravessar e da forte tendência para o aumento da taxa de desemprego, os resultados obtidos são extremamente positivos e permitem-nos encarar com optimismo o futuro da Parfois em Espanha. Relativamente à Polónia, a estratégia de internacionalização, também por lojas próprias, arrancou em Março deste ano com a abertura da primeira loja em Poznan – tendo já aberto, no início de Junho, a segunda loja, em Wroclaw. Neste momento, a estratégia passar por abrir cinco lojas até ao final do ano, em Varsóvia e Cracóvia. Apesar do abrandamento da economia polaca, a dimensão e o dinamismo do seu mercado interno permitem-nos encarar a actual situação como uma oportunidade única de nos podermos posicionar no sentido de beneficiar quando a economia deste país retomar o seu ritmo crescimento.
O vosso franchising está espalhado pelo mundo. Quais são as principais apostas em termos de negócio?
Desde sempre a Parfois cresceu com uma rede de franchising, quer em termos de número de lojas como em número de países, que tem permitido reforçar a visibilidade internacional da marca. Neste momento, a estratégia passa por reforçar a presença nos países do Médio Oriente, onde a Parfois conta já com cerca de 30 lojas. No Leste Europeu, devido ao abrandamento muito significativo da actividade económica, as perspectivas, no curto prazo, são, com certeza, menos optimistas, nomeadamente em países como a Rússia, Cazaquistão e Letónia. Relativamente à Roménia e Ucrânia, apesar do forte abrandamento, existem perspectivas de reforçar, ainda este ano, o número de lojas Parfois em cada um destes países. Neste momento, estamos em negociações avançadas para aberturas em novos mercados, nomeadamente, Croácia, Marrocos, Síria e Líbano.
Portugal tem uma pequena economia aberta, onde pouco crescemos. Logo, a actual crise significa um abalo mais pequeno em comparação com as grandes economias. Ainda assim, porque é tão difícil prever como será o próximo ano em termos económicos?
Em primeiro lugar, diria que a incerteza para o próximo ano não se resume à economia portuguesa mas a toda a economia mundial. Portugal está a sofrer um abrandamento muito significativo da actividade económica, muito afectada pela crise financeira internacional, com uma tendência clara para o aumento do desemprego – que deverá continuar pelo menos até 2010. Contudo, a recuperação da nossa economia deverá ser mais lenta devido às restrições que advirão dos limites da despesa pública, já de si muito pressionada pelo deficit orçamental e pelo nível da dívida pública actual. A situação vem agravada pelo nosso deficit externo que, no médio prazo, virá colocar sérios constrangimentos à capacidade de financiamento português no exterior – com impacto directo no nível de investimento e crescimento económico.
Tem crescido a tensão entre a banca e as empresas. Mesmo assim, há empresas em crescimento em tempo de crise. Porque será que isto acontece?
Uma das principais consequências da crise financeira que vivemos resultou da reavaliação profunda dos critérios de avaliação do risco. Neste momento, a banca é muito mais selectiva na concessão do crédito mas isso não significa que, para projectos criadores de valor, o crédito não esteja disponível. Houve um claro ajustamento da banca às condições de mercado, nomeadamente ao nível dos spreads praticados, mas as operações criadoras de valor continuam e continuarão a ser financiadas.
Acha que é importante, dadas as condições globais da economia, que o Director Financeiro (DF) tenha experiência internacional?
Em primeiro lugar, um DF deve ser capaz de reagir à evolução permanente dos mercados, controlando, de forma rigorosa, os diversos riscos do negócio. A experiência internacional permite um conhecimento mais profundo das diferentes realidades e culturas, aumentando a capacidade de adaptação e previsão num cenário em que as decisões têm uma complexidade crescente.
As maiores oportunidades de carreira podem surgir durante um período de crise, uma vez que essas são as grandes provas de fogo para um DF pôr em prática muitos dos ensinamentos teóricos adquiridos. Concorda com esta leitura?
Independentemente da conjuntura, o DF deve estar focado na criação de valor para a organização, na promoção de uma cultura de excelência e na antecipação e adequada avaliação dos riscos do negócio. Nessa perspectiva, a actual crise permitiu identificar toda uma série de situações que não foram encaradas por muitos Directores Financeiros com a prudência e com o rigor que estes devem seguir na avaliação dos riscos e no impacto destes na sobrevivência e na prossecução das estratégias das organizações.
A actual conjuntura não é considerada propícia para o financiamento de projectos empreendedores, daí que formas alternativas de financiamento, disponíveis através do capital de risco ou dos “business angels”, assumam um papel importante. Sendo que hoje se observa um aumento das necessidades de financiamento das empresas através de capitais próprios em detrimento do capital alheio, poderá ser um capital de risco uma boa opção?
A diversificação das fontes de financiamento tem beneficiado o empreendedorismo e a inovação. Assim, devem ser claramente estimulados, como forma de reforçar o tecido empresarial português e a nossa posição competitiva na economia internacional. As restrições ao crédito que se vivem actualmente vêm reforçar a importância destes veículos como promotores do investimento, da criação de emprego e do desenvolvimento económico.