Segundo o Jornal do Oeste, a Thomaz Santos é a maior empresa das Caldas da Rainha e uma das principais da região de Leiria. Do ponto de vista financeiro, como justifica este estatuto?
Em primeiro lugar, deve-se ao seu fundador, Thomaz dos Santos, que, desde o início da sua actividade em 1922, concentrou todos os seus esforços e resultados obtidos no crescimento e na criação de condições de desenvolvimento da empresa. Deste modo, a empresa conquistou e tem vindo a trabalhar na manutenção de uma capacidade financeira que se tem revelado fundamental para a prossecução dos seus objectivos dentro da principal área de negócio, a dos produtos siderúrgicos. Por outro lado, também se tem evidenciado como uma mais-valia para fazer face a momentos mais difíceis como os que atravessamos actualmente.
Operam num sector dos produtos siderúrgicos, que exige uma permanente atenção à concorrência – especialmente a que vem do estrangeiro. Ao nível da gestão financeira, que medidas permitem responder à agressividade de um mercado cada vez mais global?
Sim, de facto, a concorrência é bastante significativa, no sector onde operamos. Por isso, é crucial estarmos atentos a esse mercado global e às informações e tendências transmitidas do exterior, que têm impacto no nosso sector, para podermos reagir rapidamente à evolução do mesmo. Mas, se as boas relações comerciais e institucionais que construímos com os nossos clientes e fornecedores, numa lógica de parceria e continuidade, são importantes, uma boa gestão financeira acaba por ser decisiva, pela interligação que tem com áreas críticas tais como a gestão de stocks. O elevado nível de autonomia financeira, que alcançámos ao longo dos anos, tem permitido obter resultados naquelas que são as especificidades do sector, nomeadamente as oscilações de preços que o caracterizam. Os níveis de competitividade com que temos conseguido marcar presença no mercado são também um factor determinante para a obtenção de resultados positivos e para reagir a períodos críticos em termos de consumo.
Como qualificaria a importância da direcção financeira na vossa organização, quer na vertente operacional quer estratégica?
A direcção financeira tem um papel muito importante, nas duas vertentes referidas. No que respeita à vertente operacional, posso mencionar a área de controlo de crédito e cobranças. A gestão de risco, ao nível de controlo de crédito, encontra-se centralizada na direcção financeira e procuramos que seja efectuada de forma equilibrada e devidamente ponderada. São questões relevantes, quer o crescente risco – inerente aos sectores de actividade onde se inserem os nossos clientes –, quer o dilatar dos prazos de pagamento a que se tem assistido nos últimos anos. Tudo isto tem sido, obviamente, agravado pela crise instalada no próprio sistema financeiro. Por outro lado, uma eficiente gestão de stocks é outra das áreas já referidas como decisiva na nossa actividade e uma das bases do negócio. A capacidade financeira, nomeadamente em termos de liquidez, tem permitido responder de forma rápida e eficaz às necessidades de stock, mediante as tais oscilações de preços, características do sector dos produtos siderúrgicos, ou mediante as variações do consumo. As decisões, nestas áreas, são de carácter estratégico e têm impactos significativos sobre a rentabilidade do negócio.
No seu entendimento, quais as principais prioridades de investimento que devem ser desenvolvidas na área financeira?
Penso que devemos apostar em ferramentas de gestão que nos ofereçam segurança e eficiência. Estas devem, por um lado, estar bem estruturadas ao nível de processos e procedimentos funcionais pelo impacto no dia-a-dia da empresa e na qualidade do serviço que é prestado ao cliente. Por outro lado, é importante que possuam sistemas de informação que permitam acompanhar e efectuar análises de rentabilidade detalhadas e dinâmicas. Isto significa ter várias vertentes examinadas, do mais genérico ao mais específico. É fundamental dispor deste tipo de dados que nos permitam acompanhar a evolução da actividade da empresa de forma transversal, desde os elementos contabilísticos e financeiros, passando pela rentabilidade do negócio e margens comerciais até à produtividade e eficiência dos recursos.
Considera que esta é a altura para introduzir de forma mais urgente ferramentas de análise analíticas mais sofisticadas? Em que medida estas poderão melhorar a gestão financeira, em relação aos processos manuais?
Penso que sim, porque, cada vez mais, tanto a economia como o sector em que nos inserimos apresentam níveis de instabilidade e volatilidade que exigem uma capacidade de resposta rápida. O nível de disponibilidade e de acesso, assim como um certo “automatismo” associado às ferramentas de análise e de apoio à gestão e à decisão são essenciais, quer para a gestão financeira corrente quer para a componente estratégica e de longo prazo. E, de facto, se os processos manuais revelam desvantagens a estes níveis, para além de não permitirem uma optimização dos recursos, os sistemas integrados mais sofisticados são os que nos permitem ter uma base de decisão com as características que referi.
O antigo presidente da CIP, Pedro Ferraz da Costa, considera que “há 20 anos que vivemos sistematicamente com uma procura interna francamente superior à nossa capacidade produtiva”. Se assim é, qual a melhor forma de gerir as finanças de uma organização, partindo do pressuposto que estamos “acima das nossas possibilidades” e que “consumimos muitíssimo mais do que produzimos”?
A afirmação corresponde a uma realidade cujas consequências são agora sistematicamente debatidas, uma vez que o nosso país tem descurado as questões da produtividade interna. Numa organização, os riscos são muito similares aos que assistimos a nível nacional e, por isso, é muito importante a lógica e o princípio de crescimento sustentado e sustentável. Isto implica ter uma política de investimentos e de endividamento que, embora possa ser mais ou menos arrojada, e isso depende dos objectivos definidos por cada organização, não esteja “acima das suas possibilidades” e não coloque em causa a capacidade de fazer face aos compromissos assumidos. Uma empresa que consiga criar uma base de crescimento assente nestes princípios poderá alcançar resultados positivos, ter sucesso na sua área de actuação e, ao mesmo tempo, estar melhor preparada para este tipo de enquadramento económico e social.