Como encara as alterações introduzidas pelo Sistema de Normalização Contabilística (SNC) no contexto das necessidades das organizações?
Segundo o meu ponto de vista, a introdução do Sistema de Normalização Contabilística corresponde a um importante avanço a nível competitivo das empresas portuguesas, na medida em que, com a globalização da actividade económica, é fundamental que a “linguagem” dos números seja a mais uniforme possível a nível nacional, europeu e mundial.
Assim, tendo em consideração que o Sistema de Normalização Contabilística é baseado nas Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS), a adopção do novo normativo contabilístico proporcionará uma maior qualidade e transparência das demonstrações financeiras das empresas. Tal, permitirá maior credibilidade das mesmas normas e, consequentemente, vantagens competitivas para as organizações que adoptem o novo normativo de forma adequada, nomeadamente junto dos seus parceiros comerciais e, em particular, no sector financeiro.
É, também, muito importante que a Gestão entenda que a introdução do SNC não é algo que afecta somente a Contabilidade, mas também os indicadores de performance das empresas e a avaliação dos seus gestores.
Apesar de já ter entrado em vigor há algum tempo, com certeza que têm existido muitas dúvidas sobre a aplicação desta norma. O que considera mais importante focar na Formação especializada sobre o SNC?
Um dos aspectos mais relevantes na formação especializada no âmbito do SNC está relacionado com a capacidade de se transmitir aos formandos a importância e vantagens competitivas para as empresas e para os contabilistas, da adopção de forma competente do novo normativo. Adicionalmente, é fundamental que se transmita, de forma eficaz, que existe uma mudança de paradigma. Ou seja, um dos aspectos fundamentais do novo normativo é “reporting”, donde, a informação a prestar no Anexo às demonstrações financeiras passou a ter uma importância fundamental - e este será um dos elementos mais relevantes para se avaliar da qualidade da prestação de contas.
Como tem sido a transição do Plano Oficial de Contabilidade para o SNC?
As médias e grandes empresas, de uma forma geral, preparam-se atempadamente, formando os seus quadros e efectuando o diagnóstico do impacto da introdução do SNC nas suas contas, na informação da gestão e nos sistemas informáticos.
No entanto, parece existir, ainda, um número razoável de empresas que pensa que a introdução do SNC corresponde essencialmente a alterações nos códigos de contas - o que, podendo ser aceitável para pequenas empresas, não é para a generalidade das médias e grandes empresas.
A recente crise financeira foi associada à ética dos gestores e a um potencial desajuste dos conteúdos dos programas académicos comparativamente com a realidade do mercado. Face à crise, que poucos previram, sente que as consultoras, e em particular as acções de formação para profissionais, necessitaram de ajustar algumas das suas acções?
Parecendo excessivo imputar a responsabilidade da crise financeira somente a aspectos éticos e à formação académica, considerando que a formação profissional para quadros médios e superiores deve assentar na aquisição de competências técnicas, de gestão e de liderança que produzam efectivas alterações nas atitudes, comportamentos e resultados no seu dia-a-dia de trabalho, sou de opinião de que as acções de formação podem contribuir para melhorar os aspectos acima referidos.
No caso específico da PwC ACADEMY, quais as principais apostas em termos de formações para responsáveis e técnicos financeiros?
O nosso portefólio formativo assenta em formação técnica especializada das áreas financeiras, fiscais e de gestão, valorizando a vasta experiência dos colaboradores da PricewaterhouseCoopers nestes domínios. Fomos os primeiros a lançar projectos formativos integrados no âmbito do Novo Sistema de Normalização Contabilístico, por exemplo - no contexto do qual somos líderes de mercado -, bem como em várias acções de formação na Fiscalidade, como são exemplo: Preços de Transferências, IRC, IVA e Fiscalidade Internacional, só para citar alguns.
Também na área da gestão temos disponibilizado acções de formação em gestão financeira, controlo, auditoria, marketing, que têm tido grande procura por parte dos nossos clientes, e correspondido a pedidos cada vez mais recorrentes de formação nas competências sociais e relacionais.
Considera que a criação de novos serviços de Consultoria e Outsourcing em Formação são a resposta mais adequada a uma nova realidade?
Actualmente, a gestão da formação profissional é uma área com crescente regulação, com implicações significativas a nível legal e financeiro para uma organização. Acresce que, no actual contexto económico e financeiro, as principais preocupações das organizações estão assentes na gestão financeira e económica, sem descurar o investimento adequado no seu capital humano. Neste contexto económico e financeiro, as empresas procuram focar-se no desenvolvimento do seu negócio, diminuir os custos de gestão e dos seus processos administrativos, sem deixar de parte uma gestão profissional dos mesmos e um investimento inteligente no desenvolvimento do seu capital humano - o que pode ser feito por especialistas. Assim, opção de “outsourcing” é a mais adequada para estruturas empresariais que pretendem ser mais flexíveis, com a vantagem de poderem utilizar especialistas e com menos custos fixos.
Considera que a Formação em sala continua a ser a forma mais eficaz, especificamente junto da área financeira?
A formação profissional deverá assentar no princípio fundamental da transformação de conhecimentos, práticas e atitudes, que deverá ser visível pelo valor acrescentado que esse colaborador potencie e promova na sua organização, bem como na sua equipa de trabalho. Nas circunstâncias, a nível de formação para executivos, considero que a formação em sala continua a ser mais eficaz, no entanto, a formação “bilearning” pode ser uma alternativa a ponderar em circunstâncias específicas.
O papel dos responsáveis financeiros das organizações é, actualmente, tido como o de um integrador de valor. No seu entender, que qualidades-chave deve possuir este profissional?
Os responsáveis financeiros devem dispor de competências diversificadas e multifacetadas que conjuguem competências técnicas, conhecimento de negócio, inteligência emocional e capacidade de estabelecer relações construtivas de valor dentro e fora da sua organização com colegas, clientes e fornecedores - que potenciem o seu contributo global e a forma como intervêm, quer no plano operacional dos desafios do quotidiano, quer no plano estratégico.
Os responsáveis financeiros vão muito para além dos meros registos contabilísticos, sendo fundamental compreender que os números traduzem políticas estratégicas, opções de gestão e comerciais, de tesouraria e de produção que actuam de forma convergente para o êxito de uma organização.