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#50 | JANEIRO 2011
VITOR REIS
Director dos Serviços Financeiros das seguradoras do Grupo MAPFRE em Portugal
"O maior desafio deriva da imprevisibilidade do amanhã e da velocidade com que ocorre a mudança"

O que leva as empresas de seguros a assegurarem um índice de lucro no contexto actual?
Ao contrário do que se possa pensar, não se trata de atingir um recorde de resultados, mas sim de conseguir atingir o mínimo exigível para assegurar a sustentabilidade do sector. E, mesmo assim, há que fazer uma referência aos rácios combinados do sector, os quais, além de sistematicamente superiores a 100%, têm apresentado uma tendência de agravamento, o que significa que a margem de exploração técnica, derivada directamente do negócio, tem sido tendencialmente negativa e que apenas os rendimentos financeiros têm contribuído para a melhoria dos resultados globais, os quais se encontram sujeitos à turbulência dos mercados financeiros e, como tal, expostos a muita incerteza.

Quais as decisões financeiras estratégicas a serem tomadas em momentos de recessão económica?
Na MAPFRE | SEGUROS acreditamos que é fundamental ter uma actuação coerente segundo três pontos de vista: uma exploração técnica sadia e rigorosa ao nível da subscrição e da gestão de sinistros, capaz de dar resposta aos desafios que o entorno vai colocando, sem perder a visão de médio e longo prazo; uma gestão muito apurada da infra-estrutura de recursos humanos e materiais, assegurando a máxima eficiência e eficácia e, por último, uma gestão prudente dos investimentos financeiros. Estas premissas poderão até condicionar a alavancagem dos resultados obtidos em períodos de grande bonança mas limitam, seguramente, as perdas potenciais em períodos de recessão, garantindo, assim, uma evolução ascendente e consistente.

Ainda no contexto da crise, é sabido que as pessoas estão a optar, cada vez mais, pelos seguros “low cost”, mais interessadas em pagar menos de seguro do que propriamente nas regalias. Esta situação é melindrosa para a MAPFRE?
É uma realidade do mercado a que as seguradoras se têm que adaptar. É natural que haja segmentos de clientes com este posicionamento e o mercado encarregar-se-á de proporcionar soluções. Na MAPFRE | SEGUROS preferimos potenciar a nossa eficiência interna para conseguirmos continuar a oferecer aos nossos clientes produtos de grande e reconhecida qualidade, mas a preços muito competitivos, esse é definitivamente o nosso posicionamento.
Não obstante e salvo melhor opinião, há dois factores mais preocupantes para as seguradoras que têm contribuído para a diminuição das margens técnicas e, consequentemente, para a degradação de resultados de que falámos antes. Eles são, por um lado, nos ramos Não Vida, a inexistência de crescimento natural de vendas, provocado pelo contexto económico recessivo, que tem levado a uma concorrência bastante agressiva entre os operadores de mercado e, por outro, no ramo Vida, a concentração das vendas em produtos de índole financeira em detrimento dos produtos tradicionais de risco.

De que forma a MAPFRE combate a forte concorrência de seguradoras existentes no mercado português?
A concorrência é saudável e faz parte do funcionamento dos mercados. A MAPFRE | SEGUROS procura posicionar-se oferecendo uma boa relação qualidade/preço dos produtos que comercializa e apostando em fidelizar os clientes através de um nível superior de prestação de serviços. Para os nossos clientes do segmento empresarial, por exemplo, disponibilizamos ferramentas que facilitam a gestão e o conhecimento dos riscos. Neste aspecto assumimo-nos como verdadeiros parceiros de negócio, o que origina bons níveis de fidelização, pese embora a grande concorrência no mercado segurador.

Uma boa optimização da gestão financeira poderá ser decisiva nos bons resultados?
Não sei se decisiva, mas seguramente importante, especialmente na actividade seguradora em que os rendimentos dos investimentos assumem um papel relevante. Felizmente, o Grupo MAPFRE possui uma estrutura especializada na gestão dos investimentos financeiros, facto que constitui uma mais valia significativa para todas as empresas do grupo que nela se apoiam, tanto na vertente de optimização dos gastos, como na correcta implementação da política de investimentos aprovada anualmente. Tal política dispõe as regras de investimentos, sempre numa perspectiva de prudência e considerando diversos aspectos como o risco de crédito, o risco de taxa de juro, a diversificação, a maturidade, etc., cuja aparente adequação nos tem permitido conter as perdas potenciais derivadas da turbulência dos mercados financeiros nos últimos anos.

Numa altura em que o desemprego atingiu níveis avassaladores, que poderão mesmo vir a subir, como considera possível contornar este problema e como é que uma grande empresa pode fazer para manter os seus trabalhadores?
De facto, ainda não há muitos anos o enfoque estava colocado na forma das empresas reterem os talentos e, em pouco tempo, a realidade económica e social transferiu esse enfoque para a procura de soluções que evitem a redução da força de trabalho. Não quero com isto dizer que as empresas não se preocupam em reter os profissionais mais capacitados. Pela natureza destes, é óbvio que o fazem, no entanto, pelo que me é dado a perceber pelas diversas noticias que vêm a público, os esforços da generalidade das empresas encontram-se dirigidos especialmente para a evitar despedimentos.
Na minha opinião, só uma gestão que promova permanentemente a eficiência, mesmo em épocas de crescimento, pode dotar as empresas de uma folga mínima para absorver impactos em situações de crise. Mesmo assim, haverá situações em que as empresas tenham que promover adaptações na sua estrutura, de forma a garantir a sua continuidade. Muitas vezes são decisões difíceis de tomar, mas podem ser absolutamente necessárias para manter a parte mais substancial dos empregos.

De que forma a sua empresa está a encarar a implementação do novo código contributivo? Que reajustamentos foram feitos?
No âmbito da proposta de Orçamento de Estado para 2011 têm vindo a ser conhecidas algumas alterações significativas ao quadro previsto na versão original do código contributivo. Na MAPFRE | SEGUROS estamos a avaliar a versão final para proceder de seguida às adaptações operativas que se venham a revelar necessárias e não esperamos dificuldades de maior na sua implementação.

Quais os desafios de amanhã para um Director Financeiro?
Creio que o maior desafio deriva da imprevisibilidade do amanhã e da velocidade com que ocorre a mudança. Longe vão os tempos em que os planos eram elaborados e executados integralmente sem grandes alterações. Hoje, há uma necessidade permanente de adaptação desses planos à conjuntura que está a mudar de forma imprevisível e a uma velocidade vertiginosa.
A adopção das normas internacionais de contabilidade, que constituiu uma ruptura com o passado, alterando substancialmente a forma de ver as contas das empresas, as constantes e complexas alterações fiscais e, no caso concreto da actividade seguradora, o quadro normativo do novo regime de solvência, conhecido como Solvência II, têm sido acontecimentos muito exigentes para as áreas financeiras e para os Directores Financeiros em particular. Mas não posso deixar de referenciar, também, como muito importante, um outro tipo de desafio: o de dar continuidade à evolução que, salvo melhor opinião, já se tem vindo a verificar há algum tempo, segundo a qual, a função financeira deixa de se confinar a quadrar números para se adaptar e ser parte activa do desenvolvimento do negócio.

Biografia
Vítor Reis é vice-presidente da MAPFRE – Seguros de Vida, S.A. e Director dos Serviços Financeiros das seguradoras do Grupo MAPFRE em Portugal, empresa onde se encontra desde 1994. Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto e pós-graduado em Políticas de Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Autónoma de Lisboa, frequentou ainda o Programa de Alta Direcção de Empresas da AESE. É membro da Ordem dos Economistas.

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