Qual a importância das tecnologias de informação no seio do Hospital Fernando Fonseca (Amadora/Sintra)?
A importância das TI no seio deste Hospital não será mais vital do que em qualquer outro no qual as TIC sejam um manifesto pilar estratégico orientado logo desde a gestão de topo. Porém, e sendo este o caso, podemos evidenciar que para além dessa orientação existe uma competição extraordinária, entre as direcções de Serviço desta unidade com o intuito de procurar mostrar vontade e capacidade para receber meios informatizados com vista a simplificar as suas actividades. Durante quase uma década que o Hospital não investiu em “pensamentos”, “actos” e “acções” que fossem explicitamente dirigidas a melhorar os seus processos de trabalho tirando partido dos sistemas de informação. Desde 2009, e só depois de abençoado como Entidade Publica Empresarial (EPE), que a ambição desta gestão potenciou actividades que foram desde a edificação de um Centro de Investigação & Criatividade em Informática, com projectos de inovação, investigação e transferência de tecnologias de outras indústrias, até à nomeação de gestores de projectos onde se destaca uma peça tão fundamental como por exemplo um Chief Medical Information Officer (CMIO), para colaborar activamente junto da Direcção de Gestão de Tecnologias e da Informação, no âmbito da informatização clínica e outras actividades.
Gabriel Coimbra, Research and Consulting Director da IDC afirmou que em 2010 o cenário era de estagnação no que respeita a despesa em TIC. Sentiu essa paralização no seu departamento?
Não é aceitável que os organismos de saúde tenham de ter qualquer tipo de retracção nas suas actividades e no investimento em processos, sistemas e tecnologias de informação para os próximos anos. Eu diria antes pelo contrário, uma vez que existem imensos recursos de baixo custo, que estão disponíveis dentro e fora dessas unidades, mas que para alguns hospitais os excessos de outrora tornou-os transparentes. Penso que esta é a oportunidade numa década para se potenciar a criatividade e a diferença. Acredito que o trabalho que as direcções TIC dos hospitais terão potencialmente de fazer não é investir com recursos económicos mas sim amplificar o nível de organização e autonomia da gestão dos seus assets de sistemas e infra-estruturas tecnológicas, que com os facilitismos perderam provavelmente nos últimos anos. Quem sabe até seja altura, como já tem acontecido em alguns hospitais, de se fazer algum “desinvestimento” e se libertarem de soluções, que pouco retorno entregam, face aos custos fixos e elevados do seu suporte, e que foram deixadas introduzir fruto de uma má gestão no tempo da “abundância”. Este é o momento para pequenas empresas, é a altura de se procurar quem faça commodity software, quem faça mais e melhor por menos, mas também uma oportunidade para retirarmos excelente partido das infra-estruturas existentes, e quem sabe até adaptar peças de software livre às actividades do negócio. É o momento de ouro para aprendermos a gerir projectos e recursos com mais rigor, evitarmos ser empresas com gordura, e procurarmos rentabilizar melhor os recursos de comunicações, larguras de banda, energia, hardware, etc. até ao ponto de procurarmos intentar por uma monitorização quase que “obsessiva” dos custos e dos níveis de serviços prestados na contratação externa.
Considerando a implementação recente da nova plataforma de QlikView, já tem alguns dados concretos sobre a sua funcionalidade e sucesso?
Essa solução não é uma recente implementação pois já em 2009 alguns dashbords eram utilizados na gestão para fazer monitorização financeira e da actividade. O QlikView, tal como outra qualquer ferramenta de BI, é o que internamente fizermos dela. É verdade que entrámos numa fase curiosa de massificação e promoção da ferramenta para a gestão intermédia, no qual promovemos, sem precisar de recorrer ao exterior, acções internas de formação a técnicos, gestores e médicos. Procura-se que qualquer director intermédio ou profissional técnico possa tirar o melhor partido na análise e monitorização de indicadores a partir de qualquer fonte de dados. A forma intuitiva e o conceito de navegação e pesquisa associativa de dados da ferramenta é sedutor e notável, pelo que independentemente da plataforma de staging e datawarehouse que o Hospital venha a adoptar, o QlikView será sempre, com grande probabilidade, o frontend de navegação, inclusive para cruzamento de dados em alto nível, bem como para dashboards de monitorização das operações.
A plataforma tem respondido aos seus três motores de arranque: transversalidade, especificidade e oportunidade?
Transversalidade: Capacidade de potenciar analise e monitorização de operações são só ao nível da gestão de topo mas também, nas direcções de primeira linha tal como a Logística, Financeira, Planeamento e Controlo de Gestão e as Direcções Clínicas;
Especificidade: A solução é completamente agnóstica ao sector e adaptável a qualquer actividade e particularidade exigida por qualquer indústria;
Oportunidade: É o melhor momento pois é quando encontramos o Hospital a renovar as suas fontes de dados, a introduzir novas soluções e a beneficiar do anseio e disponibilidade latente de grande parte dos profissionais em colaborar em projectos que lhes permitam transformar a imensa Informação que têm em seu poder, em Conhecimento.
Qual o sector de excepção nas áreas das TI do Hospital?
O roadmap e a visão da gestão de topo para o Hospital é de tal forma abrangente que não é possível evidenciar-se um sector de excepção na área das TI. O Hospital procura dotar-se de todos os meios tecnologicamente “saudáveis” para endereçar meios que permitam mitigar as necessidades que vão, por exemplo, desde um centro de dados eficientemente energético, a gestão da energia e a Segurança física e lógica dos recursos que suportam a informação, a gestão centralizada de todos os equipamentos electrónicos, o controlo de acessos global, a videovigilância e a monitorização de assets, o enriquecimento dos sistemas de suporte à actividade e à decisão, a expansão do business intelligence, a gestão documental, gestão de risco, e o não menos importante e titânico desafio de um Processo Clínico Electrónico global.
Qual a sua previsão para o mercado das TI em geral e no Hospital Fernando Fonseca?
O mercado das TI em Portugal poderá ter um pouco de abrandamento, mas penso que é uma oportunidade para as PME diversificarem. Os revendedores do portfólio dos grandes produtores de hardware e software acomodaram-se aos “bids” e à exclusividade na representação e o mercado pouco de diferenciador tem para oferecer. Porém, não significa que o mercado dos SI siga o mesmo caminho. A matéria-prima para se desenvolver software é infinitamente grátis e depende de vontade e capacidade das empresas, academias, ou, no limite, até de cada um de nós. Acredito que a transformação que esta organização está a ter erigirá um marco histórico que interessará no mínimo um dia aos funcionários recordar. Não só porque o Hospital está obrigado a reestruturar praticamente de raiz toda a sua base de infra-estruturas tecnológicas, os sistemas de suporte à actividade (clinico/administrativas), os de suporte à decisão clínica, modernizando-se a uma grande velocidade, mas também porque para isso tem vindo a conseguir dotar-se de profissionais, com excelentes qualificações técnicas e humanas, que com competências segregadas, produzem valor de uma forma muito natural.