Que importância atribui às tecnologias de informação na Barata&Ramilo/Parfois?
São verdadeiramente imprescindíveis para o funcionamento do negócio. Cada colecção da Parfois tem cerca de 10.000 produtos distintos, que são vendidos em 220 lojas, em 27 países. A maioria das lojas recebe, todos os dias, a reposição de artigos que vendeu, calculada por algoritmos específicos que analisam o ritmo de vendas e os stocks (em loja e no armazém central). Para que tal seja possível, integramos continuamente todos os movimentos das lojas e processamos a informação todas as noites. A falha de comunicações numa loja, por exemplo, impede que a reposição seja feita automaticamente no dia seguinte. Em casos pontuais, é exequível fazer a reposição manualmente, mas seria de todo inviável fazê-lo todos os dias, para várias lojas.
É também com base na informação de gestão processada diariamente, nomeadamente, pela plataforma de Business Intelligence, que são tomadas as decisões de gestão do negócio: Quais os best-sellers e os slow-movers? Que gamas de artigos têm sucesso? Em que canais? Qual o resultado de cada loja face aos objectivos?
Lançámos, em 2010, um portal dirigido a colaboradores optimizado para smartphones que lhes permite ver, em tempo real, a evolução das vendas de cada loja Parfois, face ao objectivo. Teve uma adesão fantástica de toda a equipa de gestão de loja, que consegue assim acompanhar, em qualquer momento do dia, as vendas de cada loja sob a sua responsabilidade.
Qual o papel do Director de Sistemas de Informação (DSI) numa empresa como a Barata&Ramilo/Parfois, no contexto actual?
Tem de ser agente de mudança. É, aliás, na minha opinião, a pessoa dentro da empresa mais bem posicionada para o fazer: tem um conhecimento profundo dos processos da empresa, domina as ferramentas informáticas que os suportam, quer funcionalmente como ao nível do potencial e das limitações que apresentam, reúne competências de análise de sistemas, gestão de projectos e tem, provavelmente, uma apetência pela inovação. Ao nível da gestão de projectos, deverá ser capaz de introduzir na empresa metodologias ágeis, como SCRUM, que permitam um diálogo permanente com o “cliente interno” e maximizem a capacidade de desenvolver e colocar em funcionamento rapidamente novas funcionalidades.
Terá certamente de, por vezes, lutar contra a tentação e o conforto de manter estável e intocável a infra-estrutura aplicacional, assumindo os riscos da mudança; para tal, é também fundamental que as organizações sejam capazes de valorizar essa atitude nos colaboradores, e de não se focarem demasiado em penalizar falhas. Actualmente, e mais do que nunca, as empresas que não forem ágeis e rápidas na mudança, serão fortes candidatas a desaparecer do mercado.
Quais os desafios que a crise financeira trouxe à área de TI?
Em conjunturas económicas adversas, existe geralmente uma predisposição extraordinária para a optimização funcional e para o aumento da eficiência operacional das empresas, quer nos seus processos internos, como nas ligações que estabelecem com parceiros de negócio. Estas directrizes, a par da introdução de soluções que visem trazer vantagens competitivas para o negócio, são aquelas pelas quais temos pautado a nossa actividade.
Como a Parfois manteve um ritmo de crescimento elevado, e ao contrário do que se passou em muitas das empresas, não houve redução do investimento em TIs nem no orçamento de correspondentes, tendo-se verificado inclusive um aumento do valor total dispendido em TIs. Não obstante, mantivemos um enorme rigor em todos os investimentos feitos e em todos os custos sob a responsabilidade da direcção de TI.
Os clientes procuram cada vez mais soluções e informação “simples e rápida”. De que forma é possível dar essa resposta ao mercado? De que forma é que a Barata&Ramilo/Parfois o faz, especificamente?
A experiência do utilizador é realmente importante e merece especial atenção por parte da equipa que desenvolve cada projecto.
A meu ver, a referência nesta área continua a ser a Apple, quer nos computadores de secretária ou portáteis, quer nos iPhones e iPads, em que a experiência de utilização é verdadeiramente fantástica: simples, intuitiva e envolvente. As funcionalidades oferecidas, embora aquém de outras alternativas porventura mais completas, envolvem cada utilizador de uma forma apaixonante criando uma autêntica tribo de adeptos, de todas as idades, sexos e classes sociais.
Há várias soluções, nomeadamente, em lojas online, que conseguem também transparecer para utilizador uma grande facilidade e simplicidade, mesmo havendo grande complexidade nos processos de negócio correspondentes. Veja-se, por exemplo, o caso da Amazon, que possibilita que qualquer pessoa, mesmo com pouca experiência e sem formação específica, consiga encontrar os artigos que pretende e realizar a compra online.
Para se atingir esse objectivo, é fundamental fomentar o diálogo da equipa TI com o cliente ao longo de cada projecto, ouvi-lo e mostrar-lhe o que está a ser feito, bem como dedicar especial atenção à experiência de utilização do produto, pois a aplicação será usada por utilizadores comuns e não por técnicos de informática.
A visão é de oferecer a cada utilizador, em cada aplicação de negócio, a experiência e o prazer de utilização que usufruir quando está a jogar um jogo no seu computador, consola ou smartphone.
Na sua opinião, como irá evoluir o sector das TI?
Estimo que se acentue a separação entre actividades core, que se manterão no interior das empresas, e actividades não core, que serão externalizadas em outsourcing ou out-tasking. O mesmo se verificará ao nível aplicacional, com aplicações core para o negócio a ser mantidas internamente e aplicações não core a ser usadas em modelo SaaS.
Outra tendência inevitável é a acessibilidade às aplicações e à informação a partir de qualquer local e a partir de uma variedade de dispositivos e equipamentos, desde ao portátil da empresa ao computador pessoal e ao smartphone ou tablet. Este alargamento nas formas de acesso acarretará naturalmente desafios ao nível da segurança dos dados, das aplicações e dos equipamentos.
A simplificação dos processos implica uma optimização dos recursos? Se sim, de que forma é possível esta optimização?
A melhoria contínua passa por simplificar processos, melhorar processos, automatizar processos e inovar: todas estas abordagens deverão permitir a optimização de recursos ou a geração de outras vantagens competitivas para o negócio, tais como a melhoria da satisfação do cliente ou do relacionamento com os fornecedores.
Uma das melhores formas para identificar as oportunidades de melhoria é pedir sugestões às pessoas, fomentando a participação activa de todos os que executam cada processo e que, muitas vezes, não têm oportunidade de transmitir as suas ideias à gestão de topo das empresas.
Na Parfois, criámos em 2010 o programa “Ideias em Acção”, que visa a participação activa dos colaboradores na melhoria da empresa e estabelece uma relação directa entre cada colaborador e a equipa de gestão que analisa e aprova as propostas apresentadas. Tivemos mais de 60 ideias, sobretudo provenientes de pessoas da equipa logística e do armazém, várias das quais identificaram alterações simples mas com um impacto significativo ao nível da flexibilidade e redução do tempo de execução de cada tarefa. Para além das óbvias vantagens directas, permitiu o reforço da motivação da equipa e do envolvimento dos colaboradores com a empresa.
Considera que as competências em TI são essenciais para a compreensão do mercado?
Sim, tal como o inverso: a compreensão do mercado é essencial para as TIs serem mais efectivas. Estou absolutamente certo que as tecnologias de informação são um factor determinante para o sucesso dos negócios; vejamos o caso da Inditex, detentora da Zara, que tem vindo a apostar desde sempre em soluções tecnológicas, muitas desenvolvidas internamente e à medida, que lhe permitiram criar e ser bem sucedidos no conceito da Fast-fashion, nomeadamente, através da rapidez de desenvolvimento e produção/ aprovisionamento de artigos e em todo o processo logístico e de gestão do stock em loja.
Cada empresa tem de insistir na construção e partilha de uma visão comum, no trabalho em equipa, e na criação de equipas inter-disciplinares que permitam reunir várias competências e conhecimentos distintos em prol de vantagens comuns.
Temos tido vários projectos que envolvem, nomeadamente, pessoas das equipas de produto, logística e de TI e que nos têm permitido inovar na forma como gerimos o ciclo de vida do produto.
Quais são os principais desafios e obstáculos que um DSI enfrenta neste momento?
Resumiria em três linhas fundamentais: manter o alinhamento entre os SIs e o negócio (o que poderá implicar alterações frequentes de prioridades), agilizar a forma como os projectos são geridos (pois apenas dessa forma será possível acelerar a disponibilização de novas aplicações ou funcionalidades informáticas e minimizar as diferenças entre o resultado final e a necessidade do negócio nesse momento) e estar atento ao mercado e às tendências tecnológicas que poderão trazer mais-valias ao negócio.
Quais as perspectivas de crescimento de negócio da Barata&Ramilo/Parfois e qual o papel dos SI nesse crescimento?
Para 2011, estimamos atingir uma taxa de crescimento de 24%, com uma previsão de abertura de cerca de 70 novas lojas.
A acção da DSI vai ser regida pelas três linhas condutoras que nos têm servido de base nos últimos anos:
- Maximizar a produtividade e a eficácia operacional da Parfois por via da adequação e da disponibilidade dos recursos informáticos;
- Trazer novas vantagens competitivas e diferenciadoras para a Parfois, por via da inovação nos processos e nas soluções e da integração da cadeia de valor;
- Desenvolver o conhecimento informático da Parfois.
Quais são os maiores desafios para este ano? Quais as tendências esperadas?
Um dos principais é a venda online, na sequência da tendência verificada no mercado nos últimos meses de 2010 – prevemos iniciar as vendas online na estação de Outono Inverno 2011/12 e a gestão do projecto está a cargo da Direcção de Sistemas de Informação, o reforço da mobilidade e a acessibilidade a conteúdos por equipamentos móveis, e a melhoria dos processos de interligação com fornecedores ao nível do desenvolvimento, da compra e do packing.