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#34 | MARÇO 2011
NUNO MILLER
Director de Sistemas de Informação da Barata&Ramilo, S.A. (Parfois)
"O papel do DSI, no contexto actual, tem de ser agente de mudança"

Que importância atribui às tecnologias de informação na Barata&Ramilo/Parfois?
São verdadeiramente imprescindíveis para o funcionamento do negócio. Cada colecção da Parfois tem cerca de 10.000 produtos distintos, que são vendidos em 220 lojas, em 27 países. A maioria das lojas recebe, todos os dias, a reposição de artigos que vendeu, calculada por algoritmos específicos que analisam o ritmo de vendas e os stocks (em loja e no armazém central). Para que tal seja possível, integramos continuamente todos os movimentos das lojas e processamos a informação todas as noites. A falha de comunicações numa loja, por exemplo, impede que a reposição seja feita automaticamente no dia seguinte. Em casos pontuais, é exequível fazer a reposição manualmente, mas seria de todo inviável fazê-lo todos os dias, para várias lojas.
É também com base na informação de gestão processada diariamente, nomeadamente, pela plataforma de Business Intelligence, que são tomadas as decisões de gestão do negócio: Quais os best-sellers e os slow-movers? Que gamas de artigos têm sucesso? Em que canais? Qual o resultado de cada loja face aos objectivos?
Lançámos, em 2010, um portal dirigido a colaboradores optimizado para smartphones que lhes permite ver, em tempo real, a evolução das vendas de cada loja Parfois, face ao objectivo. Teve uma adesão fantástica de toda a equipa de gestão de loja, que consegue assim acompanhar, em qualquer momento do dia, as vendas de cada loja sob a sua responsabilidade.

Qual o papel do Director de Sistemas de Informação (DSI) numa empresa como a Barata&Ramilo/Parfois, no contexto actual?
Tem de ser agente de mudança. É, aliás, na minha opinião, a pessoa dentro da empresa mais bem posicionada para o fazer: tem um conhecimento profundo dos processos da empresa, domina as ferramentas informáticas que os suportam, quer funcionalmente como ao nível do potencial e das limitações que apresentam, reúne competências de análise de sistemas, gestão de projectos e tem, provavelmente, uma apetência pela inovação. Ao nível da gestão de projectos, deverá ser capaz de introduzir na empresa metodologias ágeis, como SCRUM, que permitam um diálogo permanente com o “cliente interno” e maximizem a capacidade de desenvolver e colocar em funcionamento rapidamente novas funcionalidades.
Terá certamente de, por vezes, lutar contra a tentação e o conforto de manter estável e intocável a infra-estrutura aplicacional, assumindo os riscos da mudança; para tal, é também fundamental que as organizações sejam capazes de valorizar essa atitude nos colaboradores, e de não se focarem demasiado em penalizar falhas. Actualmente, e mais do que nunca, as empresas que não forem ágeis e rápidas na mudança, serão fortes candidatas a desaparecer do mercado.

Quais os desafios que a crise financeira trouxe à área de TI?
Em conjunturas económicas adversas, existe geralmente uma predisposição extraordinária para a optimização funcional e para o aumento da eficiência operacional das empresas, quer nos seus processos internos, como nas ligações que estabelecem com parceiros de negócio. Estas directrizes, a par da introdução de soluções que visem trazer vantagens competitivas para o negócio, são aquelas pelas quais temos pautado a nossa actividade.
Como a Parfois manteve um ritmo de crescimento elevado, e ao contrário do que se passou em muitas das empresas, não houve redução do investimento em TIs nem no orçamento de correspondentes, tendo-se verificado inclusive um aumento do valor total dispendido em TIs. Não obstante, mantivemos um enorme rigor em todos os investimentos feitos e em todos os custos sob a responsabilidade da direcção de TI.

Os clientes procuram cada vez mais soluções e informação “simples e rápida”. De que forma é possível dar essa resposta ao mercado? De que forma é que a Barata&Ramilo/Parfois o faz, especificamente?
A experiência do utilizador é realmente importante e merece especial atenção por parte da equipa que desenvolve cada projecto.
A meu ver, a referência nesta área continua a ser a Apple, quer nos computadores de secretária ou portáteis, quer nos iPhones e iPads, em que a experiência de utilização é verdadeiramente fantástica: simples, intuitiva e envolvente. As funcionalidades oferecidas, embora aquém de outras alternativas porventura mais completas, envolvem cada utilizador de uma forma apaixonante criando uma autêntica tribo de adeptos, de todas as idades, sexos e classes sociais.
Há várias soluções, nomeadamente, em lojas online, que conseguem também transparecer para utilizador uma grande facilidade e simplicidade, mesmo havendo grande complexidade nos processos de negócio correspondentes. Veja-se, por exemplo, o caso da Amazon, que possibilita que qualquer pessoa, mesmo com pouca experiência e sem formação específica, consiga encontrar os artigos que pretende e realizar a compra online.
Para se atingir esse objectivo, é fundamental fomentar o diálogo da equipa TI com o cliente ao longo de cada projecto, ouvi-lo e mostrar-lhe o que está a ser feito, bem como dedicar especial atenção à experiência de utilização do produto, pois a aplicação será usada por utilizadores comuns e não por técnicos de informática.
A visão é de oferecer a cada utilizador, em cada aplicação de negócio, a experiência e o prazer de utilização que usufruir quando está a jogar um jogo no seu computador, consola ou smartphone.

Na sua opinião, como irá evoluir o sector das TI?
Estimo que se acentue a separação entre actividades core, que se manterão no interior das empresas, e actividades não core, que serão externalizadas em outsourcing ou out-tasking. O mesmo se verificará ao nível aplicacional, com aplicações core para o negócio a ser mantidas internamente e aplicações não core a ser usadas em modelo SaaS.
Outra tendência inevitável é a acessibilidade às aplicações e à informação a partir de qualquer local e a partir de uma variedade de dispositivos e equipamentos, desde ao portátil da empresa ao computador pessoal e ao smartphone ou tablet. Este alargamento nas formas de acesso acarretará naturalmente desafios ao nível da segurança dos dados, das aplicações e dos equipamentos.

A simplificação dos processos implica uma optimização dos recursos? Se sim, de que forma é possível esta optimização?
A melhoria contínua passa por simplificar processos, melhorar processos, automatizar processos e inovar: todas estas abordagens deverão permitir a optimização de recursos ou a geração de outras vantagens competitivas para o negócio, tais como a melhoria da satisfação do cliente ou do relacionamento com os fornecedores.
Uma das melhores formas para identificar as oportunidades de melhoria é pedir sugestões às pessoas, fomentando a participação activa de todos os que executam cada processo e que, muitas vezes, não têm oportunidade de transmitir as suas ideias à gestão de topo das empresas.
Na Parfois, criámos em 2010 o programa “Ideias em Acção”, que visa a participação activa dos colaboradores na melhoria da empresa e estabelece uma relação directa entre cada colaborador e a equipa de gestão que analisa e aprova as propostas apresentadas. Tivemos mais de 60 ideias, sobretudo provenientes de pessoas da equipa logística e do armazém, várias das quais identificaram alterações simples mas com um impacto significativo ao nível da flexibilidade e redução do tempo de execução de cada tarefa. Para além das óbvias vantagens directas, permitiu o reforço da motivação da equipa e do envolvimento dos colaboradores com a empresa.

Considera que as competências em TI são essenciais para a compreensão do mercado?
Sim, tal como o inverso: a compreensão do mercado é essencial para as TIs serem mais efectivas. Estou absolutamente certo que as tecnologias de informação são um factor determinante para o sucesso dos negócios; vejamos o caso da Inditex, detentora da Zara, que tem vindo a apostar desde sempre em soluções tecnológicas, muitas desenvolvidas internamente e à medida, que lhe permitiram criar e ser bem sucedidos no conceito da Fast-fashion, nomeadamente, através da rapidez de desenvolvimento e produção/ aprovisionamento de artigos e em todo o processo logístico e de gestão do stock em loja.
Cada empresa tem de insistir na construção e partilha de uma visão comum, no trabalho em equipa, e na criação de equipas inter-disciplinares que permitam reunir várias competências e conhecimentos distintos em prol de vantagens comuns.
Temos tido vários projectos que envolvem, nomeadamente, pessoas das equipas de produto, logística e de TI e que nos têm permitido inovar na forma como gerimos o ciclo de vida do produto.

Quais são os principais desafios e obstáculos que um DSI enfrenta neste momento?
Resumiria em três linhas fundamentais: manter o alinhamento entre os SIs e o negócio (o que poderá implicar alterações frequentes de prioridades), agilizar a forma como os projectos são geridos (pois apenas dessa forma será possível acelerar a disponibilização de novas aplicações ou funcionalidades informáticas e minimizar as diferenças entre o resultado final e a necessidade do negócio nesse momento) e estar atento ao mercado e às tendências tecnológicas que poderão trazer mais-valias ao negócio.

Quais as perspectivas de crescimento de negócio da Barata&Ramilo/Parfois e qual o papel dos SI nesse crescimento?
Para 2011, estimamos atingir uma taxa de crescimento de 24%, com uma previsão de abertura de cerca de 70 novas lojas.
A acção da DSI vai ser regida pelas três linhas condutoras que nos têm servido de base nos últimos anos:
- Maximizar a produtividade e a eficácia operacional da Parfois por via da adequação e da disponibilidade dos recursos informáticos;
- Trazer novas vantagens competitivas e diferenciadoras para a Parfois, por via da inovação nos processos e nas soluções e da integração da cadeia de valor;
- Desenvolver o conhecimento informático da Parfois.

Quais são os maiores desafios para este ano? Quais as tendências esperadas?
Um dos principais é a venda online, na sequência da tendência verificada no mercado nos últimos meses de 2010 – prevemos iniciar as vendas online na estação de Outono Inverno 2011/12 e a gestão do projecto está a cargo da Direcção de Sistemas de Informação, o reforço da mobilidade e a acessibilidade a conteúdos por equipamentos móveis, e a melhoria dos processos de interligação com fornecedores ao nível do desenvolvimento, da compra e do packing.

Biografia
Nuno Miller é licenciado em Engenharia de Sistemas e Informática pela Universidade do Minho e tem um MBA Executivo em Direcção Geral de Empresas, pelo EUDEM. Iniciou a carreira desempenhando funções técnicas em TI, onde assumiu cargos de coordenação de equipa e gestão de área de negócio.
Esteve, por vários anos, ligado à Prestação de Serviços Profissionais e Consultoria, na Deloitte e empresas suas participadas, onde dirigiu uma área de negócio e onde teve a oportunidade de participar e dirigir vários projectos multidisciplinares com outras equipas e áreas de negócio.
Ingressou no Grupo Organtex em 2002, onde assumiu várias funções de direcção de topo, relacionadas com Sistemas de Informação, Direcção Geral de Unidades de Negócio, Gestão da Inovação, Desenvolvimento de Fornecedores, Planeamento Estratégico e Execução Estratégica, Comunicação e Imagem e Excelência Empresarial.
Actualmente, exerce funções de Director de Sistemas de Informação da Parfois, com responsabilidade sobre todos os sistemas e tecnologias de informação da sede e das 180 lojas Parfois, abrangendo 20 países. É membro da Comissão Executiva.

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