Tendo em conta o actual panorama da AP, em que aspectos as TI podem ajudar a colmatar a necessidade de aumentar a produtividade das instituições face à redução de orçamento, nomeadamente, quando pensamos em Business Intelligence (BI) e Tecnologia de Integração?
As tecnologias de informação, desde que bem utilizadas são uma excelente ferramenta para o aumento da produtividade e da redução de custos.
A implementação de um Sistema de Informação permite, desde que bem concebido, a optimização de processos e, em grande parte dos casos, a eliminação de redundâncias com a consequente redução de custos.
Tal como refere, soluções de Business Intelligence, coordenadas com a integração de sistemas de informação, poderão disponibilizar indicadores e tendências que permitirão inferir da melhor forma de organização de cada negócio, optimizando recursos e obtendo ganhos de produtividade. Tal é o que se perspectiva com a Plataforma de Business Intelligence do Ministério da Justiça em fase de concepção.
Considerando que em termos de integração já muito foi feito no ITIJ, quer através da interoperabilidade de sistemas mas muito principalmente através do aperfeiçoamento da arquitectura global de informação, pretende-se obter o máximo de informação do imenso manancial de dados que a constituem.
O cruzamento de dados de pedidos de serviço aos balcões das Conservatórias, com os recursos afectos à satisfação dos mesmos, permitirá optimizar a organização dos serviços do Instituto de Registos e Notariados reduzindo custos e prestando melhores serviços ao cidadão.
O mesmo se poderá aplicar aos dados obtidos sobre processos judiciais e o mapa judiciário.
Mais exemplos poderão ser dados, em que se obtém redução de custos directos e aumento de produtividade mas também redução de custos indirectos por fornecimento de mais e melhores serviços aos cidadãos e às empresas.
Para além da combinação redução de orçamento/aumento da produtividade, que outros objectivos considera essenciais na potencialização das Instituições Governamentais? (e que forma utilizaria para os atingir de forma mais eficaz?)
Na questão anterior, já antevi parte desta resposta ao referir o aumento da qualidade de serviço aos cidadãos. No entanto, o grande objectivo, na minha opinião, deveria ser o aumento da qualidade da informação.
Só quem trabalha com os dados no dia-a-dia se apercebe de quantos obstáculos surgem por problemas de qualidade de dados.
São problemas com um enorme impacto e que, muitas vezes, não são visíveis. Simples decisões, aparentemente inocentes, inviabilizam projectos futuros. Como é habitual referir, são facturas que se pagam mais tarde por não se ter sido capaz de pensar global de forma integrada.
A capacidade de visão de alto nível é algo fundamental para a definição da arquitectura de informação.
Hoje, com a interoperabilidade entre sistemas, vêm ao de cima estas fragilidades e felizmente já encontramos organizações preocupadas com uma arquitectura de informação integrada e a implementação de normalização. No entanto, ainda muito há a fazer neste domínio.
Com a disponibilidade de serviços transversais à Administração Pública, esta questão ganhou outra dimensão e é necessário definir orientações quanto antes para se poder tirar o maior proveito possível das ferramentas de que dispomos.
É fundamental que ao nível da AP se definam orientações, normas, dicionários de dados e, sobretudo, modelos de governação.
Ainda há muitos medos mas caminhamos a largos passos para uma arquitectura global.
Quais os principais benefícios que advêm da implementação de ferramentas de BI e Tecnologia de Integração na AP e como podem esses benefícios ser maximizados?
As ferramentas de BI e as plataformas de disponibilização de dados estatísticos potenciam a extracção de informação dos dados em bruto. Se existir, e volto a insistir, uma arquitectura de informação e um modelo de governança global da AP poderemos ir muito longe com os dados de que dispomos hoje.
Para além da redução de custos, combatendo a redução de orçamentos e aumento de produtividade, poderemos obter muito mais informação sobre os dados de que dispomos usando-a a nosso favor, por exemplo:
- No combate à criminalidade, cruzando várias dimensões (dados existentes) como se de um cubo multidimensional se tratasse. Isto é válido não só no mundo da justiça, como também no mundo dos impostos, saúde e segurança social;
- Em estudos de mercado, na procura de investimentos produtivos cruzando dados de empresas, impostos e emprego;
- No combate à sinistralidade, analisando comportamentos de condutores, dos veículos e da rede rodoviária.
Há muito a fazer. É, de facto, uma altura óptima para dar força à frase tão batida de converter ameaças em oportunidades.
Que avaliação faz do actual panorama das TI na AP?
Nos últimos cinco anos houve, efectivamente, uma grande reforma no modo de trabalhar na Administração Pública. A AP virou-se para o cidadão com o grande impulso do programa SIMPLEX, o que arrastou a necessária colaboração entre vários organismos.
Este processo foi timonado pela Agência para a Modernização Administrativa incidindo na fase inicial nas áreas da Justiça, Finanças, Segurança Social e Saúde, como referi há pouco.
O facto destes Ministérios possuírem já serviços partilhados ao nível das tecnologias de informação, materializados em Institutos Públicos, potenciou o sucesso desta mudança.
O aumento de sinergias ao nível da redução de custos e muito principalmente ao nível da gestão integrada da informação são factores determinantes neste processo.
A troca de experiências e difusão de métodos de trabalho, normas e procedimentos extravasaram estes Ministérios fazendo evoluir a utilização das tecnologias de informação na AP.
Este é o caminho e, ultrapassado o primeiro nível de evolução ao nível da tecnologia, é agora a altura certa para potenciar a definição de uma arquitectura de informação da Administração Pública.
Há, efectivamente, ainda muito a fazer, muitas “quintas” a destruir e muito processo a reformular numa abordagem mais altruísta, pensando no Estado como um todo e focando no cidadão.
No âmbito da rede interministerial das TIC, já foram iniciados alguns projectos dentro desta abordagem, dando forma às Resoluções de Conselho de Ministros nº 109/2009. Porém, é muito importante que o trabalho seja bem conduzido, levando à definição de “normas relativas à integração electrónica na plataforma de interoperabilidade da AP, incluindo as componentes técnicas, semânticas e organizacionais”, como é referido no ponto 3, não apenas pela via da imposição mas sim como resultado de uma análise objectiva e com uma visão abrangente.
À laia de conclusão, direi que o caminho a seguir pela AP, ao nível das TIC, será na construção de um modelo de governança e de arquitectura da informação, trabalhando agora nas dimensões semânticas e organizacionais.
Nota: Poderá aceder à versão integral desta entrevista na última edição da revista Interface Administração Pública. Solicite-a através do e-mail , indicando o assunto “PDF Revista AP nº 57”.