A Câmara Municipal das Caldas da Rainha tem em funcionamento um novo projecto na área da mobilidade – o Rainhas Bike Sharing. Em que consiste este projecto?
Nos últimos anos, o município das Caldas da Rainha tem implementado diversas medidas no sentido de melhorar a Mobilidade Urbana, como sejam a conversão de ruas onde circulavam automóveis em vias pedonais e a introdução de um transporte urbano circular, que permite que autocarros de pequenas dimensões façam o transporte de todos quantos habitam, estudam ou visitam a cidade. O lançamento do serviço Rainhas Bike Sharing (www.rainhas-bike-sharing.com), a 22 de Setembro de 2009, surgiu na sequência do trabalho desenvolvido no sentido de melhorar a mobilidade urbana. Este projecto consiste num serviço de partilha de bicicletas, onde o utilizador após uma subscrição do serviço tem ao seu dispor 50 bicicletas distribuídas por 7 (Inverno) \ 16 (Verão) pontos de entrega\recolha de bicicletas (denominadas estações). O modo de funcionamento é simples, o subscritor do serviço poderá levantar uma bicicleta em qualquer das estações com bicicletas disponíveis e poderá entregá-la numa outra estação, sem ter de se preocupar com mais nenhum pormenor.
Numa primeira fase de implementação do projecto, esta entrega \ recolha do veículo tem exigido a intervenção humana, sendo que agora no início de 2011 irá processar-se a automatização do serviço, com a introdução de estações ou pontos automáticos de entrega\recolha de bicicletas através da utilização de tecnologia de rádio frequência (RFID).
No que se refere a referências internacionais ao nível da utilização deste conceito de partilha de bicicletas (Bike Sharing) e da tecnologia RFID (Radio Frequency Identification) ao nível da mobilidade urbana, podemos e devemos mencionar os serviços de Paris (Vélib) e Lyon a cargo da JCDecaux, Barcelona (Bicing) a cargo da Clear Channel, no Canadá (BIXI) ou nos Denver – EUA (B-Cycle), entre muitos outros serviços disseminados por várias cidades em todos os continentes.
Quais foram objectivos da criação deste projecto?
Este projecto teve como principal objectivo a implementação de um serviço inovador na cidade. Procurou melhorar a mobilidade e a qualidade de vida dos habitantes, visitantes e turistas, promovendo a utilização de um meio ecológico de transporte, como é a bicicleta.
A integração deste meio de transporte, trás, por si só, benefícios directos e impactos bastante positivos para:
- o utilizador do serviço (maior mobilidade no interior da cidade onde o automóvel não chega, maior rapidez de circulação nos percursos habitualmente feitos a pé, realização de alguma actividade física, vivência diferente da cidade, entre outras);
- a cidade (melhoria da qualidade do ambiente, reestruturação da circulação dos veículos motorizados nas ruas com a introdução de medidas que limitam a velocidade de circulação dos veículos, redução do nº de veículos a circular no interior da cidade, promoção turística da cidade através das visitas e descoberta das zonas históricas da cidade de bicicleta, entre outras)
- os agentes económicos, através da dinamização do comércio local e da criação de valor para os seus clientes (dado poderem utilizar a bicicleta até à porta do espaço comercial), da sua participação activa no projecto pela gestão de um dos pontos de entrega\recolha de bicicletas, ou ainda pela divulgação dos seus produtos e eventos através de Publicidade nas bicicletas.
Este projecto visou criar uma dinâmica diferente na cidade, promovendo a criação de valor para a mesma, para os seus habitantes, visitantes e turistas.
Se tomarmos como exemplo as emissões de CO2, podemos constatar que no final de um ano de projecto, mesmo tendo apenas 2% de utilizadores de freguesias urbanas (500 utilizadores), estimamos que estes percorreram perto de 13.000km pelas ruas da cidade e que são responsáveis pela não emissão de aproximadamente 2.500kg CO2. Estamos a falar apenas de um indicador, mas poderíamos também referir o impacto que teve no modo como alguns dos estudantes se deslocaram na cidade, nalgumas pessoas que estacionaram o carro e utilizaram a bicicleta para se deslocar aos serviços públicos (Bancos, CTT, Finanças entre outros), nos turistas que visitaram a cidade de Caldas da Rainha e nalguns casos deslocaram-se até cidades vizinhas como Óbidos (a 7 Km) ou Nazaré (a 28Km).
Quais são as principais funcionalidades inerentes a este projecto?
As funcionalidades deste serviço prendem-se com o facto de estar disponível em diversos pontos da cidade, das 10h às 19h, todos os dias da semana e durante todo o ano.
A existência de pontos de entrega \ recolha de bicicletas (estações de bicicletas) disseminados pela cidade, permite aos subscritores e utilizadores do serviço de bike sharing poderem ter ao seu dispor uma alternativa de meio de transporte eficiente, ecológico e económico, dado que a subscrição anual do serviço é de apenas 20€.
A existência de um site (actualizado em tempo real) permite identificar quais as estações que tem bicicletas disponíveis, podendo deste modo informar os utilizadores do serviço onde se podem deslocar para levantar uma bicicleta.
Neste momento, estamos a desenvolver outras funcionalidades relacionadas com a utilização do telemóvel (ou Smartphones) e integrá-la com outras áreas de interesse na cidade. No fundo, tentar promover uma forma diferente de viver a cidade.
Que vantagens traz o Rainhas Bike Sharing e que lacunas vem preencher no município das Caldas da Rainha?
As vantagens são inúmeras, começando nos utilizadores que podem utilizar um veículo não poluente e deslocar-se na cidade de um modo simples, rápido e económico. No caso da cidade, esta beneficiou e beneficia com a implementação do serviço de partilha de bicicletas (bike sharing) dado que promove a mobilidade sustentável, a melhoria da qualidade de vida e do ambiente. Constitui uma óptima forma de promover turisticamente a cidade, bem como a dinamização do comércio local.
Mesmo não estando preparada para a utilização massificada da bicicleta, o município apostou, claramente, na implementação articulada de diversas medidas e soluções que melhorem a mobilidade de todos quantos circulam na cidade. As lacunas detectadas e ainda existentes (nalguns casos) não são mais do que oportunidades excelentes para implementar medidas e soluções que possam tornar a cidade um espaço onde o peão, o utilizador de bicicleta, o automobilista ou o transporte público possam interagir e complementaram-se.
Este projecto fomenta a sustentabilidade nas autarquias. Que importância atribui ao aprofundamento das políticas de eficiência energética na Administração Pública?
A Administração Pública tem de compreender que a nossa subsistência enquanto estado soberano e sustentável passa pelo combate ao desperdício e por sabermos antecipar cenários que nos deixam debilitados e fragilizados perante outras nações. Se por um lado elogio a aposta nas energias renováveis ou fomento da mobilidade eléctrica, só faz sentido esta aposta se o fornecimento de energia aos veículos eléctricos tiver como fonte energética a energia eólica, solar, geo-térmica ou das ondas do mar, porque se tivermos a fomentar a mobilidade eléctrica sustentada na queima de combustíveis fósseis (Carvão, Petróleo e Gás Natural) apenas estamos a adiar e agravar um problema de dependência de outros estados, bem como a comprometer a sustentabilidade da estratégia que temos vindo a implementar nos últimos anos.
As Politicas de Eficiência Energética passam também pelo combate ao desperdício energético existente nas mais diversas infra-estruturas onde operam os mais diversos serviços públicos, dado que os ganhos obtidos pela escolha e implementação de serviços e\ou tecnologias mais eficientes energeticamente, podem ser superados pela não rectificação de erros e desperdícios energéticos existentes. É perturbador que ao nível das políticas de eficiência energética possamos ser considerados dinamizadores, inovadores e até empreendedores nalguns casos (mesmo ao nível da Administração Pública) mas que rapidamente se comprometem e hipotecam os ganhos obtidos com esta visão e estratégia pela inoperância e passividade na gestão directa de infra-estruturas públicas.
Consegue fazer uma análise comparativa entre o desenvolvimento das políticas de eficiência energética em Portugal e “lá fora”?
A nível da política energética, julgo que a aposta nas energias renováveis é mais do que evidente, e que Portugal integra um conjunto de países que tem como estratégia romper com a dependência de combustíveis fósseis (Carvão, Petróleo e Gás Natural).
O País procura e está a fazer uma aposta significativa em tecnologia que explore e converta em energia as fontes inesgotáveis e renováveis, como seja a do sol, do vento, da geotérmica ou das ondas do mar. A questão fundamental passa pela capacidade de armazenamento e distribuição desta energia transformada que, concerteza, trará ao País uma maior autonomia e reduzirá a dependência externa de fornecimento energético. Contudo, esta estratégia e aposta só serão consideradas eficazes e eficientes se, por outro lado, existir empenho no combate ao desperdício energético e de recursos que assistimos todos os dias ocorrer no nosso País. Este processo leva a uma maior responsabilização por parte dos cidadãos e consciencialização de que esta mudança e o combate ao desperdício começam em nós e nos hábitos que temos nas nossas casas. Claro que se traduzirmos em números a alteração de comportamentos ou de atitudes que combatam o desperdício energético podemos compreender que estaremos a usar responsavelmente e eficientemente os recursos que dispomos. Em termos comparativos com outros Paises Europeus, julgo que pontualmente até parece que o nosso pensamento é convergente dado que apresentamos medidas e políticas que vão ao encontro dos objectivos estratégicos europeus. Porém, a ineficácia, a ineficiência e a inexequibilidade de excelentes exercícios de retórica e de mega-projectos promovidos por pessoas que estão ou estiveram ligados a cargos de Estado, tenham estado ou estejam agora em entidades privadas onde se verifica que a estratégia é apenas uma e nem sempre passa pelo que é melhor para o nosso País.
Em que difere o desenvolvimento da eficiência energética na Administração Central e Local? Há ou deveria haver algum tipo de complementaridade?
No meu entender não faz sentido falar-se em eficiência energética da Administração Central e Local separadamente e faz todo o sentido que sejam complementares. Infelizmente, o que se assiste é que os interesses pessoais e de protagonismo político muitas vezes perturbam e aniquilam uma estratégia de cooperação, de articulação da estrutura central e a local. É do conhecimento geral a forma como nos mais diversos órgãos e estruturas dos organismos públicos, bem como em entidades públicas, são esbanjados recursos públicos, leia-se receitas directas de impostos e taxas que o Estado colecta. Infelizmente, serão os nossos filhos e netos que irão pagar a factura de tamanha ignobilidade, que é a Politica de desperdício e ineficiência energética que assistimos em tantos locais que deveriam servir de exemplo. Claro que, a um nível da Administração Central, todos nós conseguimos aceder e comprovar exemplos da retórica ministrial e aos casos de sucesso e insucesso de eficiência energética e de políticas de noutros âmbitos. A questão mais delicada está relacionada com a Administração Local. Existem concerteza excelentes exemplos e claramente integrados e articulados com Políticas Europeias, como seja o caso da Mobilidade Urbana (C. M. Almada), Reconversão Urbana, Segurança (Câmara Municipal de Guimarães), embora tenha de ressalvar que por vezes mesmo nestes bons exemplos nem sempre se assistem a melhores práticas de gestão. Porém, as autarquias e respectivas Juntas de Freguesia, fruto diversas circunstâncias, não adoptam uma estratégia conjunta e integrada numa estratégia nacional de convergência europeia, embora ressalve que se começam a fomentar os bons exemplos e boas práticas.
O serviço Rainhas Bike Sharing foi realizado em co-produção/co-criação. Que importância atribui à co-produção de serviços públicos?
Julgo que seria importante que os serviços públicos se articulassem com as PME’s, Pólos Universitários e Centros Criativos locais no sentidode, de uma forma sustentável, poder valorizar a investigação e trabalho realizados por esses organismos, criando um circuito de criação de valor e riqueza que localmente estimularia a economia local. A cidade de Aveiro é um bom exemplo. O que assistimos ao nível da co-produção ou co-criação é que demasiadas vezes pequenas mas grandes ideias são absorvidas por empresas de referência nacional que, ao invés de funcionarem numa lógica Googliana (isto é, compra por preço justo a ideia, o conceito e a empresa), absorvem e aniquilam esse potencial de co-produção e co-criação aparecendo estes como parceiros dos serviços públicos ao nível da inovação, competetividade e melhoria de produtividade e eficiência destes serviços. Os serviços públicos, por si só, não são capazes de acompanhar a evolução tecnológica, do conhecimento, de processos produtivos e fará todo o sentido que cada vez mais exista uma aposta séria na co-produção e co-criação, desde que sejam respeitados os principios éticos e de boa gestão em todo o processo.
O Rainhas Bike Sharing está presente no Twitter e no Facebook. Que importância atribui à web 2.0 (na qual se incluem as redes sociais) na AP? Qual o seu papel?
Desde o lançamento do serviço que foi definida como obrigatória a nossa presença na Web 2.0. Esta presença permite a interacção com os nossos utilizadores, com potenciais clientes e com o mundo. Temos pessoas que visitam a nossa página e perfis de todos os cantos do globo. É curioso perceber que à distância de um click estamos no Brasil, EUA, Rússia ou Inglaterra. O que obriga que os conteúdos por nós colocados sejam actuais, importantes e que tornem essa presença útil na Web 2.0. Nos últimos anos, ao nível da AP, temos assistido a algumas alterações que demonstram a sua aposta forte no sentido de uma moderna e simples plataforma de interreação com o cidadão, com o contribuinte e com o munícipe, no sentido de aumentar a eficiência dos serviços e disponibilizar informações importantes. Claro que há muito ainda por fazer, mas temos de abraçar a cultura de realce dos aspectos positivos e esforços que se fazem no sentido de modernizar a AP e torná-la mais simples e acessível ao cidadão através da web, ao invés de abraçarmos o triste fado português de que nada se faz e que nada funciona. Mais uma vez, devo fazer a ressalva de que tudo isto deverá ser feito dentro do respeito pela ética e pelo cidadão, ao invés de, por exemplo, determinado organismo público para estar no Twitter ter pago a outra instituição pública o valor de 20.000€ para a criação do perfil e para twittar determinados conteúdos. Será que um funcionário público, com formação adequada e integrado num dos milhentos departamentos informáticos da AP não poderia ter criado este perfil? A minha tristeza enquanto cidadão é sentir que vivemos num Estado, cujos principais intérpretes pelos mais diversos organismos públicos não têm uma preocupação com a coisa pública e acima de tudo com o futuro. Os que o fazem são manifestamente poucos para contrariar e contaminar positivamente a AP.
Quais os objectivos a médio/longo prazo para este projecto?
O projecto das Rainhas Bike Sharing pretende ser mais do que um projecto no âmbito da mobilidade sustentável. A natureza do projecto está intrinsecamente ligada a outras questões igualmente importantes para a região e para o País. Está relacionado com o Turismo (permitir conhecer os hot spot’s da cidade de um modo diferente e ecológico), com a Cultura (dinamizando a rede de Museus existentes na cidade), com o Ambiente (dado que esta ecológica forma de mobilidade, promove a melhoria do meio ambiente), com a Saúde (está comprovado que hábitos de vida saudável estão relacionados com a realização de actividade fisica, pelo que a adopção da bicicleta como meio de transporte de algum modo também contribuirá para esse facto). Por outro lado, a tecnologia desenvolvida por uma jovem empresa de Coimbra, com o contributo da Faculdade de Engenharia do Porto, em breve poderá contribuir para as Exportações do nosso País dado que na Europa e no Mundo cada vez mais existem mais interessados neste tipo de soluções. Em termos pessoais, espero que os objectivos delineados a médio longo prazo sejam atingidos e possamos, em co-criação ou co-produção, contribuir para a implementação desta solução de mobilidade sustentável (bike sharing) na região Oeste e que possa integrar outras soluções tecnológicas que possam criar valor para todos quanto requisitem, implementem e utilizem os nossos produtos e serviços.