Qual a missão e os valores da WeDo Technologies?
A missão da empresa mantém-se exactamente a mesma desde o seu lançamento e está focada na satisfação dos clientes, na existência de um espírito “WeDo Fun” entre os colaboradores e em garantir a rentabilidade. A rentabilidade para nós é mais do que um número, já que significa retribuir ao nosso accionista o investimento e a confiança que teve, e tem, em nós.
Quanto à visão, houve uma evolução. Começámos com o objectivo de liderança em consultoria de sistemas (em várias áreas) mas, entretanto, o mercado mostrou-nos um caminho muito mais diferenciador: o desenvolvimento de soluções de software muito orientadas ao negócio e que proporcionam aos nossos clientes um rápido payback (daí resultando um excelente retorno de investimento). Actualmente, a nossa visão passa pela liderança mundial em business assurance. Desde 2008 que temos abordado em Portugal os mercados dos grandes retalhistas (hipermercados, grandes cadeias de roupa, etc.), das utilities (com especial enfoque nos retalhistas de energia) e o sector financeiro, para além do sector das telecomunicações.
Por fim, os valores da marca são, por ordem alfabética, o Companheirismo, Dedicação, Frugalidade, Honestidade, Proactividade, Responsabilidade e Transparência.
Que serviços e produtos fornece a empresa?
De forma alinhada com a visão da empresa, a principal linha de negócio é o software para business assurance (garantia/controlo de negócio). Com esta linha de negócio, através de soluções específicas, cobrimos as necessidades de controlo de negócio dos sectores em que estamos focados: telecomunicações, financeiro, retalho e utilities. Nesta área, através da Praesidium, empresa inglesa que adquirimos, oferecemos igualmente serviços de consultoria na área de gestão de risco.
Por outro lado, temos uma segunda linha de investimento, composta por software de gestão de negócio. Recentemente, apostámos ao nível de contencioso, que veio reforçar esta linha, que já era composta por um produto de gestão de crédito e cobranças, bem como de incentivos comerciais, entre outros.
Com escritórios nos cinco continentes, como surgiu a oportunidade de expansão? Foi uma aposta calculada (por força do interesse estrangeiro nos vossos produtos) ou antes um risco, sem garantias de sucesso?
Toda a estratégia da criação da WeDo Technologies foi desenhada para a internacionalização. Durante oito meses foi feito um planeamento e preparação prévia de metodologias e da estrutura da empresa, o que contribuiu para o sucesso no desenvolvimento do negócio, mas sobretudo na internacionalização. A empresa foi criada formalmente em Junho de 2000, tendo iniciado a sua actividade comercial apenas em Fevereiro de 2001.
Como inicialmente nos concentrámos no sector das telecomunicações, o mercado português não teria dimensão suficiente para sobrevivermos. Vêmo-lo, antes, como uma excelente base e uma montra fantástica. Felizmente, temos em Portugal empresas competitivas e de referência internacional nos sectores de actividade que servimos. Consideramos os nossos clientes nacionais parceiros do crescimento e desenvolvimento da WeDo Technologies e, sempre que podemos, damos visibilidade internacional aos projectos desenvolvidos no país.
Não nos restringindo apenas ao core business da WeDo Technologies, mas alargando à generalidade do sector empresarial português, de que forma será possível aumentar o potencial competitivo do país?
Portugal precisa de apostar na internacionalização das suas empresas e em clusters que sejam considerados estratégicos.
A empresa é reconhecida como uma referência, detendo a liderança mundial na área da revenue assurance no sector das telecomunicações. Qual o segredo para uma empresa oriunda de um mercado tão pequeno como o português atingir tal estatuto à escala global?
Defino-o em poucas palavras: Organização, Pessoas (qualificadas e ambiciosas) e Processos. E também um pouco de sorte, que, como sabemos, recompensa quem trabalha e ambiciona muito.
Apenas uma nota, Portugal é um país de dimensão média à escala europeia e mundial, em população e geografia. Não somos pequenos e é crítico que, de uma vez por todas, o entendamos.
Todos sabemos que o mercado exige audácia das empresas portuguesas, para assim conseguirem sobreviver. Que receita dá aos gestores nacionais, caso assumam uma aposta no estrangeiro?
É fundamental que conheçam o “cliente” e o mercado. Viajem muito. Conheçam e falem com a maior quantidade possível de pessoas – dos mais variados meios e origens. Saiam da vossa zona de “conforto”.
Num sector tão competitivo e evoluído como o das novas tecnologias, é garantido que o sucesso da WeDo Technologies exige uma forte componente de inovação. Sente que existem outros exemplos no país, ou ainda sofremos de um excesso de conservadorismo e medo face ao desconhecido?
Existem muitos bons exemplos de inovação no país (vejam-se as empresas que pertencem à rede da COTEC).
O problema do país é o nível de qualificação média dos nossos cidadãos. Demore o que demorar, devemos resolver esta questão.
Sabemos que as multinacionais que estão em Portugal têm um histórico de excelentes resultados quando se comparam com as suas homólogas. Sabemos que os nossos quadros, quando trabalham no estrangeiro, se distinguem pela positiva.
Qualificação dos recursos humanos e organização do trabalho, são claramente as duas prioridades na nossa perspectiva.
O capital humano é fulcral para qualquer empresa. Infelizmente, muitos dos nossos denominados "cérebros" têm que sair das fronteiras nacionais para verem reconhecidas as suas faculdades. Portugal está condenado a perder o que tem de melhor entre os seus recursos? Ou este é apenas um sinal dos tempos, com as constantes movimentações de profissionais pelas mais variadas partes do mundo?
Em qualquer país, as pessoas emigram se não encontrarem trabalho no seu ramo de actividade, se encontrarem trabalho muito melhor remunerado no país de destino ou ambicionarem conhecer outras realidades.
Acredito, contudo, que o nosso país tem um potencial muito grande para atrair empresas e quadros estrangeiros, o qual não está a ser aproveitado. E isso deveria motivar-nos, em vez de nos preocuparmos exclusivamente em saber porque saem os nossos talentos.
Ainda assim, bom seria que muitos dos “cérebros” saíssem de Portugal, pois melhoraria a imagem do nosso país no estrangeiro, seria uma forma de, a prazo, trazermos conhecimento para o país e criaria uma mais forte rede de contactos internacionais.
E que medidas devem ser tomadas no sentido de aumentar as qualificações profissionais dos recursos humanos?
A medida principal tem de ser desenvolvida individualmente por cada um de nós, através da vontade de aprender, ler, estudar, escrever. Precisamos de ter ambição e força de vontade!
Por fim, exige-se uma estratégia comum para Portugal, que permita evoluir e crescer social e economicamente, em especial neste período tão conturbado à escala planetária. Fazendo uma análise interna e externa, quais as nossas forças e fraquezas, bem como as oportunidades e ameaças que se colocam ao país?
Vejo como principais forças a versatilidade, adaptação, simpatia e a famosa capacidade de encontrar soluções criativas sob pressão (“desenrascanço”). Somos um povo naturalmente preparado para as exigências do século XXI.
Os principais pontos a melhorar são, para além da qualificação/formação, a auto-estima como povo (aqui seria bom aprendermos com os povos brasileiro, angolano e espanhol) e a falta de ambição (pensando pequeno, teremos sempre pequenos resultados).
As oportunidades que Portugal tem, como nação, estão muito relacionadas com as forças do nosso povo e com os recursos naturais: desenvolvimento do cluster do turismo, internacionalização das nossas empresas, a energia do vento e das ondas (o mar deveria dar-nos muito mais), etc. Como disse atrás, acredito igualmente que a nossa população, cultura e ambiente social são propícios à atracção de pessoas e empresas estrangeiras.
Podíamos dizer que a grande ameaça passa pela concorrência das economias chinesa e indiana, mas acredito que está nas nossas fraquezas.
Se percebermos que, em termos relativos, somos tão bons ou melhores que os outros, se nos organizarmos, definirmos prioridades estratégicas (entre elas a qualificação/formação), seremos dos países melhor preparados para tirar partido das enormes mudanças estruturais, sociais e económicas que o mundo vai atravessar. Temos de nos mobilizar!
Carlos Moreira da Silva, Gonçalo Quadros, José Redondo