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DALE SANDERS
Vice-Presidente e CIO do departamento de serviços de informação da Northwestern Medical Faculty Foundation
"Nas organizações de saúde onde falta a cultura de melhoramento de processos, o BI é inútil. Posto isto, na cultura certa, o BI pode ser inestimável"
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Como é que o Business Intelligence (BI) pode tornar os serviços de saúde mais inteligentes?
Essa é uma grande questão, sendo a resposta digna de um livro inteiro. No entanto, uma vez que neste caso se trata de uma curta entrevista, eu responderei sucintamente dizendo que o BI pode tornar os serviços de saúde mais inteligentes aumentando a velocidade e a precisão das tomadas de decisão – a velocidade na qual a empresa consegue responder às variações do mercado, condições, novas oportunidades, aumento da qualidade e redução de custos. O BI reduz e remove o trabalho de suposição e incerteza na tomada de decisões. Esta incerteza tem duas consequências: (1) As decisões tomadas por uma organização ou individualmente são menos precisas e algumas vezes baseadas em informação completamente errada, levando à deterioração do negócio; ou (2) As decisões tomadas são de muito mais lenta resolução porque leva bastante mais tempo a reunir informação e a aceder à situação antes de tomar uma decisão relativamente precisa. Estas são as verdades sobre os benefícios que o BI pode trazer, que se mantêm verdadeiras para qualquer indústria. Aumentar a velocidade e a precisão da tomada de decisões é o que eu chamo de reduzir “Mean Time Improvement” (melhoria do tempo médio) ou MTTI. As indústrias e organizações actuam baseadas numa média conceptual MTTI. Em indústrias como telecomunicações móveis a média MTTI pode ser medida em dias e semanas – isto é, há novos produtos e planos que emergem todos os dias. Trata-se de um ambiente muito volátil e competitivo onde apenas os mais ágeis sobrevivem. Nas indústrias de retalho, a média MTTI pode ser medida em horas e dias, enquanto que grandes retalhistas como a WallMart e a Target ajustam o seu produto e estratégia de vendas numa base de hora em hora, aplicando o conhecimento reunido através de BI em lojas de uma zona temporal para outra zona temporal subsequente. Nos serviços de saúde, a MTTI cultural pode ser medida em meses e anos. À excepção de aparelhos cirúrgicos interventivos e tecnologia imagiológica, a inovação e as descobertas raramente ocorrem. Quando foi a última vez que nós descobrimos a cura para uma doença como o pólio? Demorou mais de 17 anos para os sistemas de saúde dos EUA aceitarem na sua totalidade e praticarem o protocolo-padrão relativo à pneumonia na comunidade. Parte desta barreira à melhoria é de cariz cultural e nenhuma quantidade de BI alguma vez irá resolver o problema, mas em grande parte dos serviços de saúde, a MTTI é muito elevada porque nós não temos a informação suficiente para tomar decisões rápidas e informadas, e chamar a atenção dos fornecedores de serviços para melhores práticas.
Quais são as grandes vantagens que o BI pode trazer às organizações de saúde e aos pacientes?
Nas organizações de saúde onde falta a cultura de melhoramento de processos, o BI é inútil. Posto isto, na cultura certa, o BI pode ser inestimável. Por exemplo, eu já vi o BI a ser utilizado para:
- Identificar mais de 3 milhões de dólares (aproximadamente 2,3 milhões de euros) em poupança de custos por ano na gestão da provisão para uma organização com uma receita anual de 2,2 mil milhões de dólares (aproximadamente 1,7 mil milhões de dólares)
- Reduzir o número de nascimentos de cesariana em 40% por ano, enquanto melhorando os resultados para recém-nascidos e mães.
- Reduzir a mortalidade dos pacientes em 38% através de uma monitorização e gestão mais próximas dos níveis de glicose, nos pacientes da Unidade de Cuidados Intensivos.
- Reduzir o número de readmissões de pacientes com doenças cardio-vasculares em 34% através de uma monitorização mais próxima da administração de medicação aos pacientes que têm alta, como inibidores ACE, estatinas, e aspirina.
- Reduzir o prazo para pagamento de créditos em 65%.
Esta lista é tão longa, que eu poderia continuar eternamente. Para pacientes, o BI nos serviços de saúde eventualmente fornece melhores cuidados clínicos a um preço mais reduzido. O BI também pode fornecer uma maior transparência na qualidade entre fornecedores de cuidados. Nos EUA, estamos a ver um impulso significativo dos empregadores e das companhias de seguros para um maior acesso público à qualidade das métricas de cuidados. Projectos como a Physician Quality Reporting Initiative (Avaliação da Qualidade da Prática Médica) terão um impacto nacional na qualidade dos cuidados e permitirão aos pacientes compararem médicos baseando-se em métricas tangíveis e evidências. O website do “Hospital Compare” é uma ferramenta nacional de BI utilizada para expor indicadores do hospital de cuidados ao paciente. Com esta ferramenta, utilizando dados submetidos pelos hospitais assim como inquéritos aos pacientes, podem-se encontrar métricas relativas a quão bem os hospitais cuidam dos pacientes com determinadas condições médicas ou cirurgias. Também se pode ver métricas através de uma pesquisa aos pacientes sobre a qualidade de cuidados que eles receberam durante a sua recente estadia no hospital. Muitos fornecedores de cuidados de saúde criticam estas iniciativas porque os dados não ilustram com precisão a verdadeira qualidade dos cuidados ou acomodam a complexidade da acuidade do paciente. Algumas destas críticas são válidas. Daqui a algum tempo, no entanto, a qualidade e precisão das métricas irá melhorar, mas nunca poderemos melhorar se não dermos início ao processo. Através da utilização do BI para expor a qualidade de dados relativos aos cuidados de saúde, os fornecedores de cuidados irão tomar mais atenção a medir a sua própria qualidade e custos dos cuidados, e os pacientes irão beneficiar da capacidade de comparar as organizações para escolherem o hospital ou médico mais eficaz para o tratamento que pretendem.
Pode apontar as ferramentas ou abordagens de BI, assim como os benefícios que oferecem?
As mais recentes e impressionantes ferramentas de BI por acaso são uma colecção de ferramentas bem integradas, desempenhando um papel único na entrega de uma solução completa de BI. No passado, tive de comprar uma dúzia de ferramentas diferentes de 7 ou 8 vendedores diferentes para construir uma solução de BI completa. Hoje em dia isso já não acontece. A Microsoft tem trabalhado esta estratégia bastante bem; melhor do que qualquer outro vendedor no mercado de BI. Eu observei de perto durante alguns anos a evolução SQL da Microsoft, transformando-se naquilo que é agora o equivalente do Microsoft Office para o BI – i.e., um conjunto de produtos muito rico que se integram muito bem no fornecimento de uma solução BI completa, desde a base de dados ao desktop e à web. Eles também estão a integrar text mining e ferramentas de qualidade de dados nesta linha de produtos. Outros vendedores estão a tentar fazer a mesma coisa, mas não com um desempenho tão bom. Uma das infelizes tendências que vejo é o uso excessivo e o dogma associados com a modelagem dimensional, também conhecidos como star schemas. Costumo assistir a debates entre directores de projectos de data warehouse, sobre se eles apoiam uma metodologia “Kimball” ou “Inmon”. A verdade é que nenhum destes autores nem os seus livros têm a experiência prática de construção ou funcionamento de data warehouse durante um número de anos, portanto o seu conselho é, na melhor das hipóteses, questionável. A verdade é que não há nenhuma “metodologia” concreta para o sucesso do BI, mas existem alguns princípios chave de data warehousing que são relativamente simples e que contribuem significativamente para o sucesso. Eu refiro-me a eles em seminários e também no meu blog em http://callitanything.blogspot.com.
Quais são, na sua opinião, os melhores exemplos de sucesso de aplicação de BI?
Há um crescente número de casos de sucesso de aplicação de BI nos cuidados de saúde. Há alguns anos atrás, havia muito poucos. Como referi anteriormente, o sucesso do BI depende do produto vectorial da tecnologia de BI e compromisso cultural para a sua utilização. Há algumas organizações que têm tecnologia de BI muito boa, mas um compromisso cultural pobre, portanto de uma forma geral o seu sucesso é reduzido. Do mesmo modo, há organizações que têm tecnologia de BI muito pobre, mas um compromisso cultural muito forte. Neste caso, a cultura forte pode superar algumas das inadequações do BI para atingir, de uma forma geral, um sucesso relativamente elevado de BI para a organização. Algumas das organizações que estão a ter sucesso com ambos, tecnologia de BI e cultura de BI, incluem as seguintes organizções: Intermountain Healthcare in Salt Lake City, Utah; MD Anderson; the US Veterans Health Administration; Thedacare; GroupHealth in Seattle; Geisinger; PeaceHealth; Kaiser Permanente; Partners Healthcare; Carolinas Healthcare; Providence Healthcare; Presbyterian Healthcare Services; and Spectrum Health. A Healthcare Data Warehousing Association, uma organização que fundei em 2001, é, de uma forma geral, a melhor colecção de organizações no sistema de saúde dos EUA que se encontra a trabalhar bem no que diz respeito a BI e data warehousing. O website para esta organização de sociedade livre é http://hdwa.org.
Alguns especialistas dizem que o futuro do BI na saúde acabará na intersecção dos assuntos mais urgentes (e, neste caso, crónicos) no negócio e política, e na utilização de capacidades analíticas emergentes para criar aplicações para ir de encontro a estes desafios. Pode comentar esta opinião?
Certamente que o BI está a destacar os assuntos crónicos dentro do sistema de saúde dos EUA. No passado, nós sentimos que algo não estava bem, mas não tínhamos a informação e os dados para suportar este sentimento. Agora temos um corpo crescente de evidências fornecidas por dados/informação e o BI confirma aquilo que sentíamos. Um estudo recente indica que, nos Estados Unidos, os pacientes recebem o protocolo de tratamento correcto, tal como definido pelas vulgarmente aceites melhores práticas, apenas em 46% das vezes. Isto, em comparação com 54% de taxa de defeito no produto que produzimos. Consegue imaginar a Intel a funcionar desta forma? A questão política central é se os cuidados de saúde são um direito do cidadão numa cultura avançada ou meramente mais um serviço profissional a ser comprado e fornecido em forma de mercado livre. As questões de negócio centrais estão directamente relacionadas. Se os cuidados de saúde são um direito do cidadão, então o negócio da saúde deve ser socializado e suportado por taxas e modelos subsidiados pelo governo. Por outro lado, se os cuidados de saúde são simplesmente um serviço profissional numa sociedade capitalista em regime de mercado livre, então deve ser desregulado e não subsidiado pelo governo. A qualidade e o custo encontrariam então os seus naturais pontos de equilíbrio no modelo económico. A realidade é que os serviços de saúde nas sociedades modernas é um direito de qualquer cidadão, assim como um negócio de mercado livre. Infelizmente, nos EUA nós pedimos emprestadas as ineficiências do socialismo e a ganância do capitalismo e combinamos ambos naquilo que chamamos o nosso sistema de saúde. Infelizmente, o BI não consegue resolver os problemas na saúde – apenas pode chamar a atenção para esses problemas e apontar as fontes. O melhor da computorização, Electronic Health Records (Registos de Saúde Electrónicos), e sistemas de BI apenas podem fazer pequenas e incrementais melhorias na saúde até nós endereçarmos questões mais fundamentais. Em todos os casos nos quais o sistema de saúde dos EUA recebeu uma infusão de dinheiro – quer através de um novo empregador ou programas subsidiados pelo governo – o custo do seu serviço de saúde per capita aumentou e, de uma maneira geral, a qualidade do serviço decaiu. Claramente, a adição de dinheiro a este problema não está a ajudar. Na minha opinião, há três causas fundamentais que devem ser abordadas antes de o BI poder verdadeiramente transformar os serviços de saúde: (1) A eliminação de intermediários das companhias de seguros no sentido de uma contratação mais directa entre o empregador e o fornecedor do serviço de saúde e de partilha de risco; (2) A reforma do delito que desencoraja processos legais frívolos e reclamações de negligência médica. Por entre os muitos problemas associados, a ameaça de processos por negligência nos EUA levam muitos médicos a administrarem os protocolos de tratamento mais conservadores e muitas vezes mais acros; e (3) O mais importante – um sentido de responsabilidade e risco partilhados por parte dos pacientes cujo estilo de vida contribui para uma saúde fraca. Eu não tenho dados sólidos para suportar isto, mas pelas minhas observações, acredito que 50-70% dos problemas a nível de cuidados de saúde e doenças crónicas nos EUA podem ser atribuídas a questões comportamentais – nomeadamente, uma dieta pobre, excesso de álcool, consumo de drogas ilegal, obesidade e consumo de tabaco. As pessoas devem tomar responsabilidade pela gestão e participação na sua própria saúde. É o investimento mais estratégico que podemos fazer, enquanto indivíduos e enquanto nação.
Qual deve ser o papel do CIO (Chief Information Officer) da Saúde no que diz respeito à adopção de BI?
Advogado, evangelizador e facilitador. O BI é uma sub-especialidade crítica no mercado das TI e o CIO deve estar profundamente familiarizado com a tecnologia, estratégia, e desafios culturais inerentes à adopção do BI. Para além disso, o CIO deve estar muito familiarizado com metodologias de melhoramento de processos, como sejam TQM, Six Sigma e Lean, que podem alavancar o BI até ao seu potencial máximo. O CIO também pode assegurar que as fontes que fornecem aos sistemas de BI e data warehouse são adequadamente projectadas para participar no ecossistema de BI. Estas fontes devem ser capazes de fornecer dados de alta qualidade à infra-estrutura de BI numa base oportuna e fiável, tanto numa perspectiva do conteúdo dos dados, como de uma perspectiva de extracção e carregamento de dados. O CIO pode preparar as fontes para participação e pode projectar o sistema de BI para utilização, e deve certamente ser um forte advogado de defesa no que respeita ao papel do BI no melhoramento dos processos. Mas finalmente, os líderes de negócio operacionais devem puxar o BI para a sua cultura. O CIO não pode empurrá-lo.
Biografia
Dale Sanderes é vice-presidente e CIO do departamento de serviços de informação da Northwestern Medical Faculty Foundation.
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