Qual a importância e o papel da engenharia de processos na Saúde?
A importância e o papel da engenharia de processos na saúde, é um tema da maior relevância, eu diria mesmo vital ao bom e ágil funcionamento que são a parte visível quer para os profissionais de saúde, quer para os doentes e cidadãos.
A engenharia é a parte invisível, mas que está presente desde a concepção das redes de interligação de cuidados ou de um edifício, até aos mais sofisticados meios complementares de diagnóstico e terapêutica, passando pela definição de circuitos mais curtos para o doente, e é de extrema utilidade aos profissionais que se preocupam em repensar a eficácia dos processos da sua actuação e em implementá-los, de modo que o doente e familiares possam ter um caminho de facto mais acessível e confortável. Conforto em saúde assume uma dimensão superior e a engenharia do ‘bem estar’ deve ser uma questão de todos, a começar no planeamento dos actos e procedimentos.
De que forma a engenharia está presente nos hospitais e na área da saúde em geral?
Esta pergunta está relacionada com a primeira, acrescentaria que deverá estar ainda mais presente, quer nos hospitais, quer na concepção e definição de novas aéreas, apesar de ser uma presença invisível se tudo estiver bem organizado.
A engenharia deveria estar presente no pensamento estratégico, ou seja, devemos construir hoje unidades flexíveis que possam ser adaptáveis amanhã à inovação tecnológica. Esta inovação pressionará para novas formas organizacionais e de processos e só com flexibilidade é possível moldar e pacificar as transições dos avanços tecnológicos.
A engenharia anda também de mãos dadas com a medicina ao nível da inovação de nova tecnologia médica. Concorda?
Concordo. Engenharia é uma das importantes componentes inerente ao processo de concepção e produção da inovação da tecnologia médica, que já tem um ciclo de pensamento lógico consolidado e que permanentemente está a ser desenvolvido e melhorado. Esta abordagem está a ser importada para outras áreas de conhecimento no sector da saúde, o que vai extravasar cada vez mais a sua importância no sector em geral, deixando de estar correlacionada apenas com a medicina ao nível da inovação tecnológica.
Onde começa o papel dos engenheiros na saúde?
O seu papel deve começar desde logo, na concepção e desenho do sistema de saúde que um país queira adoptar ou desenvolver.
Quais considera serem os desafios da reestruturação hospitalar na actual realidade?
Os principais desafios da reestruturação hospitalar na actual realidade, são a nível organizacional, tendo sempre presente a viabilidade financeira.
Qual a importância da engenharia no IPO e desde quando se encontra ela presente no hospital?
O IPOLFG; EPE é um hospital e, como tal, é uma organização onde existem doentes, profissionais de saúde, equipamentos muito sofisticados, infra-estruturas, processos e redes de informação, entre outros.
Assim sendo, existem três componentes, que neste hospital são um forte desafio para a engenharia:
- Sendo um hospital de referência e excelência no tratamento do cancro, precisa de estar na vanguarda da tecnologia e dos processos de rastreio, diagnóstico e tratamento da doença;
- Por outro lado, dadas as características da doença que trata, tem uma forte componente de investigação e por isso deverá estar em perfeita harmonia com a rede interna da prestação de cuidados, mas também com a rede externa do sector nacional e internacional, com benefícios mútuos para a investigação e para a forma como são tratados os doentes;
- Acresce que, sendo um hospital com infra-estruturas antigas e dispersas por vários pavilhões, tem permanentes preocupações com os fluxos e estudo dos processos críticos, no sentido de os tornar mais ágeis e perceptíveis para doentes, profissionais, familiares, investigadores e outros que para fins diversos, nos procuram.
Estes são desafios constantes, presentes e futuros, para a engenharia no seu sentido mais amplo.
Qual tem sido a evolução do IPO nesse sentido?
A evolução no que respeita à engenharia, está em linha com a inovação associada à prestação de cuidados, havendo consciência do longo caminho a percorrer.
O peso da manutenção dos espaços e infra-estruturas dos edifícios representa, no total do orçamento do Hospital, cerca de 4%, incluindo também a manutenção de equipamentos médicos e sistemas de informação. Na sua opinião, a manutenção hospitalar constitui um factor de produção cuja eficiência urge aumentar? Porquê?
Esta é uma questão que se prende com a sobrevivência orçamental e financeira e todos (fornecedores e prestadores de cuidados de saúde) devemos ter consciência da sua enorme importância para que o sector consiga resistir.
A manutenção hospitalar constitui uma zona de conhecimento muito assimétrica, logo a eficiência poderá aumentar, se houver uma alteração, nesta área, para novos modelos de gestão.
Nos últimos anos tem havido um aumento exponencial na oferta de formação na área de Engenharia aplicada à saúde, crescendo de 1 programa de estudo em 1992, para 25 programas de estudo em 2006, considerando todos os graus de ensino (pré e pós-graduado). O que revela este aumento, na sua opinião?
As necessidades de mercado. Porém, deve ser feito um trabalho de sensibilização a todos os decisores do sector, nesta matéria.
A introdução de tecnologias cada vez mais complexas na área da saúde, seja nos meios de diagnóstico, na área da investigação ou outros, tem vindo a criar a necessidade de um novo conjunto de profissionais que articulem as linguagens da saúde e da tecnologia, da medicina e da engenharia. Acha que há bons cursos de formação que articulem todas estas áreas?
Não conheço todos os cursos, mas posso dizer que deverá haver uma maior divulgação dos mesmos. A articulação de linguagens é necessária para o desenvolvimento de saberes e da sociedade. Não podemos executar bem o que fazemos, se as várias linguagens continuarem encriptadas.
Quais os principais problemas de que, na sua opinião, padece o actual sistema de saúde?
Problemas organizacionais e relacionais, que poderiam ser solucionados apenas ouvindo mais as pessoas.