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#67 | MARÇO 2009
MÁRIO FREIRE
Presidente do Departamento de Informática da UBI
"Nos últimos anos, temos assistido a um incremento significativo da adopção de novas tecnologias quer em termos de novos equipamentos de diagnóstico e terapia, quer em termos de informática clínica"

No âmbito de um protocolo entre a Siemens e a Universidade da Beira Interior (UBI), está em desenvolvimento uma técnica inovadora que permite facilitar a detecção do cancro da mama, mediante o rastreio precoce de elementos suspeitos. Como funciona este sistema e em que é que é inovador?
Actualmente, existem vários métodos para detectar calcificações e massas em imagens médicas no contexto do cancro da mama. Contudo, do ponto de vista da profilaxia, interessa que a detecção das calcificações seja feita o mais cedo possível, numa fase em que ainda têm uma dimensão reduzida, sendo designadas por micro-calcificações. Os métodos actualmente existentes para análise de mamogramas apresentam limitações na identificação dessas micro-calcificações. O método que estamos a desenvolver baseia-se na aplicação do formalismo da auto-semelhança à análise de mamogramas para detecção dessas micro-calcificações em 2D. Estamos a trabalhar na generalização deste método para 3D e na sua aplicação, não só ao nível da mamografia, mas também de outras tecnologias de diagnóstico inovadoras.
Este método encontra-se actualmente em fase de avaliação tendo em vista o registo de uma patente internacional.

Este tipo de sistema pode ser aplicado a outros objectivos para além da detecção do cancro da mama?
Por agora, estamos a investigar este método no contexto do cancro da mama. Contudo, não está excluída a hipótese de investigar a sua utilização na detecção de outros tipos de cancro que possam ser detectados precocemente através da análise de imagens médicas. A ideia de usar o formalismo da auto-semelhança para a detecção de objectos em imagens médicas surgiu-me quando estávamos a investigar a utilização deste formalismo numa outra área bastante diferente: a detecção de ataques intensos a redes e sistemas informáticos. Nessa altura, tive a percepção que a generalização deste formalismo para 2D ou 3D poderia ter aplicação na área da imagiologia.

Como se processa a utilização deste sistema na detecção de ataques internos a redes e sistemas informáticos?
O sistema que é usado para a detecção das micro-calcificações não é o que era usado para detectar ataques intensos em redes informáticas. A teoria que suportava o método utilizado para detectar ataques intensos é que foi generalizada de uma para duas dimensões, de modo a podermos aplicá-la à detecção de objectos em imagens (duas dimensões). O método que desenvolvemos para detectar ataques intensos baseia-se no comportamento de um parâmetro que mede o grau de auto-semelhança do tráfego de rede (designado por parâmetro de Hurst) face a um ataque com expressão significativa ao nível do tráfego na rede e avalia a resiliência da propriedade de auto-semelhança em função da intensidade daquele. Este método usado em 1D foi generalizado para 2D, com as devidas adaptações, para detectar objectos em imagens médicas, que no nosso caso concreto consiste em detectar micro-calcificações e massas em mamogramas.

O referido protocolo visa fomentar o intercâmbio de informação científica e técnica entre as instituições. Que importância atribui a este tipo de parcerias e que tipo de benefícios acha que podem trazer ao sistema de saúde?
Considero que este tipo de parcerias é extremamente importante, ao permitir a criação de sinergias entre o meio académico e o tecido industrial e empresarial. No nosso caso, a colaboração com a Siemens Healthcare Sector está a permitir o desenvolvimento de uma ideia que em ambiente académico, embora não fosse impossível, teria muito mais dificuldade em concretizar-se. A inovação que possa resultar deste tipo de cooperação e se traduza no desenvolvimento de novas tecnologias clínicas constitui um claro benefício para o sistema de saúde, a uma escala mundial.

Como avalia a evolução do desenvolvimento das novas tecnologias no sistema de saúde português?
Não tenho uma visão global do estado das novas tecnologias no sistema de saúde português, a minha informação limita-se a algumas unidades de saúde. O que posso afirmar em relação a estas é que, nos últimos anos, temos assistido a um incremento significativo da adopção de novas tecnologias quer em termos de novos equipamentos de diagnóstico e terapia, quer em termos de informática clínica. Relativamente à adopção de tecnologias de diagnóstico que estão a ser utilizadas lá fora e à sua aplicabilidade nos hospitais portugueses, é preciso avaliar se o que se ganha na precisão em termos de diagnóstico compensa o investimento, especialmente no cenário actual da nossa economia.

Recentemente, foi colocada à venda nas farmácias a ePen, a pen de saúde que permite ao cidadão arquivar e organizar todo o seu historial de saúde. Acha que é crucial a simplificação da relação entre os cidadãos e todo o universo da saúde? Será essa uma relação complicada?
A simplificação da relação entre os cidadãos e todo o universo da saúde, em termos de registo e armazenamento de informações clínicas, levanta, na minha opinião, um grande problema: o da privacidade da informação que é guardada e do controlo do acesso a essa informação. Se, por um lado, o acesso indevido a essa informação por terceiras entidades pode causar danos aos pacientes, por outro, essa informação pode ser valiosa em situações críticas ou de cuidados intensivos.

Biografia
Mário Freire é professor associado com agregação do Departamento de Informática da Universidade da Beira Interior (UBI), e coordenador do grupo de computação em rede e multimédia, mantendo um programa de investigação financiado nas áreas de redes informáticas, multimédia e informática biomédica.
É presidente do Departamento de Informática da UBI e director do doutoramento em engenharia informática, onde lecciona as unidades curriculares de tópicos avançados em engenharia informática e de projecto de tese e seminário, ao nível do curso de doutoramento, e as unidades curriculares de arquitecturas e protocolos de comunicação e de redes multimédia ao nível do curso de mestrado em engenharia informática, tendo também leccionado recentemente a unidade curricular de telemedicina ao curso de ciências biomédicas da UBI.
É licenciado em engenharia electrotécnica pela Universidade de Coimbra, mestre em sistemas e automação pela mesma Universidade, doutorado em engenharia electrotécnica pela UBI e agregado em informática pela UBI.

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