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#69 | MAIO 2009
JOSÉ CRESPO CARVALHO
Professor Catedrático no ISCTE
"Cada hospital é um hospital e não há receitas universais"

Na área da saúde os processos logísticos, devido às suas características muito específicas, deverão ser encarados como uma abordagem orientada não só para a racionalização de custos mas também como um elemento fundamental de apoio à prestação de cuidados de saúde a pacientes. Que “características específicas” são estas?
Um sistema logístico na saúde deve ter duas características: 1) capacidade de resposta/qualidade de serviço e 2) baixo custo. Trata-se de uma aproximação considerada lean.

Qual será a melhor forma de conjugar a racionalização de custos com o apoio à prestação de cuidados de saúde a pacientes?
Procurando conjugar as dimensões acima referidas. Custo baixo e qualidade de serviço. Na trilogia logística significará que se irá perder alguma coisa naquilo que pode ser considerado o pilar tempo. Ou seja, o tempo de resposta não será necessariamente a variável essencial para se conseguir baixo custo e qualidade do serviço. Excepção para os casos em que a qualidade do serviço seja entendida como baixo tempo de resposta. Não obstante, esses serão uma minoria face à grande quantidade de casos.

Paula Nanita, presidente do SUCH, refere que “cerca de 45% dos custos dos hospitais nossos associados estão, de forma directa ou indirecta, relacionados com actividades de cariz logístico”. Será a logística a base que sustenta toda a máquina hospitalar?
Em sentido lato, sem dúvida que a logística é o que sustenta toda a máquina hospitalar.
E acho mesmo que neste sentido mais lato está a esquecer na formulação da sua questão os custos com a logística dos intangíveis, i.e., das pessoas, dos pacientes/utentes/doentes, dos médicos, dos enfermeiros, dos farmacêuticos e demais profissionais de saúde. Está apenas a considerar a logística dos fármacos, material de consumo clínico, fornecimentos e serviços externos, entre outros. 

“Os Sistemas de Saúde têm que ser analisados e estruturados como uma organização empresarial, sendo necessário obter rentabilidade económica, prestar serviço de qualidade centrado no atendimento dos clientes/pacientes, e sendo eficiente na cadeia de valor através da fiabilidade na movimentação de materiais e de informação”. Concorda? Como poderiam estas metas ser atingidas no sector da saúde?
Concordo. A saúde tem empresas só que, e apenas, com características diferentes das demais. Mas também no mercado fora da saúde não há duas empresas iguais. É uma questão de princípio sustentar essas empresas, mais ainda as estatais, «governadas» com dinheiro dos contribuintes e que, directa ou indirectamente, terão que saber tornar-se rentáveis mas ao mesmo tempo prestáveis: estão lá para servir quem lhes paga e quem lhes paga somos todos nós. Muitas vezes esquece-se isto e é pena.

Quais considera serem os mais importantes instrumentos de gestão que devem ser usados em aproximações logísticas eficientes na saúde?
Gestão por processos. Aproximações lean. Gestão de filas de espera, de stocks, de layouts, entre tantas e tantas outras. Já agora, com algum bom senso.

O que os torna os mais importantes?
A possibilidade que têm de tornar a área melhor: menor custo e maior capacidade de serviço.

Que tipo de metodologias devem ser adoptadas no essencial da logística hospitalar, desde o aprovisionamento ao serviço ao cliente?
Os instrumentos não estão separados das metodologias. As metodologias é que os compreendem. Como instrumentos estão acima. Como metodologias eu defendo seguramente a aproximação geral ao caso (de estudo). Ou seja, cada caso é um caso, cada hospital é um hospital e não há receitas universais. Poderá haver boas práticas mas cada um terá que descobrir as suas próprias idiossincrasias.

Devido às mudanças políticas e às reformas em curso no Sistema de Saúde, a pressão sobre os custos tem aumentado de uma forma constante, obrigando à sua melhoria contínua. Desta forma, lado a lado com os factores médicos e económicos, a logística tem um peso muito significativo na eficácia do sistema. Qual o peso da logística face aos outros factores implicados na eficiente gestão hospitalar?
Eu diria que, lato senso, representa 50% do bolo de despesa de um sistema de saúde.

Na sua opinião, acha que logística deverá estar representada no conselho de administração de um hospital?
Conselhos de administração que não percebam o que é logística e como trabalhá-la têm, na minha opinião, os dias contados nos hospitais. Podem ser nomeados sem grande rigor ou critério mas chegará o dia em que quando não houver mesmo dinheiro terão que ir buscar os profissionais. E já não falta muito tempo para que isso aconteça. Basta que as dores comecem a ser maiores, os apertos cada vez mais decisivos, os dinheiros escasseiem e os objectivos fiquem por atingir.

Que exemplos de sistemas de logística de sucesso conhece e que podem fazer toda a diferença na gestão de um hospital?
Vários. Uma coisa é certa. Deixem o mercado funcionar e não se ponham nas mãos de monopólios ou oligopólios sob pena de, quando derem por isso, não terem margem de manobra nenhuma. Não vou referir o A ou o B ou o C mas só e apenas o mercado. Procurem e deixem crescer soluções e cresçam com elas (conselho que dou aos hospitais) e busquem o que mais convém com seriedade e baseado nas idiossincrasias próprias.

Biografia
José Crespo de Carvalho é licenciado em Engenharia Civil, MBA, MSs e Doutorado em Gestão de Empresas. É Professor Catedrático no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa) – Escola de Gestão, em Lisboa, e Presidente do IN OUT GLOBAL – ISCTE.
Ao longo da sua carreira académica e profissional tem desenvolvido vários projectos de consultoria e de formação na área da logística, da gestão logística e da gestão da cadeia de abastecimento, nomeadamente para Unidades Hospitalares, Unidades de Cuidados de Saúde Primários e Ministério da Saúde. Tem sido docente de vários cursos direccionados à área da Saúde, em particular de cursos de formação de pequena duração para executivos e, de forma continuada, no mestrado em Gestão de Serviços de Saúde do ISCTE. Tem vários artigos e comunicações em Portugal e no exterior e conta, neste momento, com 21 livros publicados em autoria ou co-autoria, a maioria dos quais nas áreas da logística.
Em 2003 recebeu o prémio profissional «Excelência na Logística», atribuído pela Revista Logística Hoje. Em 2001, recebeu o prémio de mérito internacional de logística atribuído pela SOLE Intrenational Society of Logistics Engineers.

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