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#87 | NOVEMBRO 2010
ANTÓNIO DOURADO
Coordenador Europeu do projecto Europeu Epilepsiae
"A primeira versão do Brainatics está quase pronta e será testada até finais de 2010"

O projecto Epilepsiae explora as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) de uma forma inovadora, na previsão de crises de epilepsia. Correcto? Pode explicar melhor em que consiste este sistema e quais as suas funcionalidades?
A grande ambição do projecto é o desenvolvimento de um aparelho pequeno e leve, transportável pelo doente, o Brainatics, que adquire em permanência, através de meia dúzia de eléctrodos, o sinal do electroencefalograma (EEG) e do electrocardiograma (ECG), com uma elevada frequência de amostragem (até 2048 Hz) e o envia a um computador portátil por tecnologia sem fios. O computador processa o EEG extraindo dele um elevado número de características temporais e de frequência, aplica algoritmos de previsão de crises com base nessas características e, se for esse o caso, envia um sinal de aviso ao doente, com uma antecedência de 15 a 30 minutos; o doente poderá, assim, salvaguardar a sua segurança e privacidade. Os preditores de crises baseiam-se em inteligência computacional (redes neuronais artificiais, máquinas de vectores de suporte) e em conceitos fisiológicos de ciclos circadianos.
Para além do Brainatics o projecto desenvolveu também uma grande Base de Dados Europeia de Epilepsia, actualmente com mais de 200 doentes (275 no final do projecto), e a maior do mundo, e uma aplicação computacional, EPILAB; no ambiente Matlab, onde estão integrados todos os métodos de extracção de características EEG-ECG e todos os preditores de crises. O EPILAB já é uma preciosa ferramenta computacional para estudos de previsão de crises.

Quais foram os principais objectivos quando se deu início a este projecto?
O grande objectivo é melhorar a qualidade de vida dos doentes epilépticos refractários, que resistem aos fármacos e à cirurgia. São cerca de um terço dos epilépticos (cerca de 1% da população é epiléptica) e têm que viver com as crises que surgem em qualquer altura, em qualquer lugar, impondo severas restrições à sua vida profissional e social. Se for possível prever uma crise, a pessoa pode prevenir-se do ponto de vista da segurança (parar o carro, por exemplo) e da privacidade (deslocar-se para um local reservado).

Que benefícios este sistema (e sua evolução) pode trazer para os hospitais (também a nível da sua reestruturação interna)?
As primeiras experiências de uso do Brainatics serão feitas nas clínicas hospitalares dos parceiros. Os doentes poderão estar em exame sem terem que permanecer constantemente na cama, podendo deslocar-se dentro de um ambiente preparado tecnologicamente com uma rede Bluetooth e câmaras de vídeo adequadas. Será mais agradável para o doente.

Quando prevê que o sistema esteja disponível?
A primeira versão do Brainatics está quase pronta e será testada (em clínica) até finais de 2010. Os resultados de previsão de crises, obtidos em estudos com os doentes da base de dados, são animadores. Para alguns doentes são mesmo muito bons. Mas para outros, nem tanto. Ainda é necessário percorrer um longo caminho na investigação de características embebidas no EEG e no desenvolvimento de algoritmos de previsão com bom desempenho. A concepção que temos actualmente é que cada doente é um caso diferente, e por isso os algoritmos terão que ser personalizados, o que requererá uma potente estrutura computacional a funcionar em clínica para esse fim.
Não se pode ainda prever com razoabilidade quando existirá uma versão comercial do Brainatics.

Esta tecnologia poderá ser utilizada noutros âmbitos, para além daquele para que foi criada inicialmente?
A tecnologia do Brainatics não é específica da epilepsia, é simplesmente um aparelho miniaturizado para aquisição do EEG-ECG, transportável, com comunicação Bluetooth. Pode ser eventualmente usado para outros tipos de aplicações neurológicas (estudos de sono, por exemplo). Mas o futuro dirá.

Nos três anos de investigação que decorreram sobre este projecto, que evoluções tem havido?
Os desenvolvimentos já foram descritos: o Brainatics, a base de dados Europeia de Epilepsia, o EPILAB. No conjunto representam um grande esforço de investigação e desenvolvimento e constituem já uma valiosa contribuição para a comunidade científica mundial.

Biografia
António Dourado Pereira Correia é licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Universidade de Coimbra, tendo obtido o grau de Docteur-Ingénieur na Universidade Paul Sabatier, Toulouse, França, e o grau de Doutor (por equivalência) na Universidade de Coimbra.
Iniciou a sua carreira académica no Departamento de Engenharia Electrotécnica da Faculdad de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), como assistente eventual, sendo desde 2002 Professor Catedrático no Departamento de Engenharia Informática da mesma Faculdade.
É coordenador do Grupo de Investigação em Computação Adaptativa do CISUC – Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra, investigando em Inteligência Computacional com aplicações na biomedicina, na indústria e na Internet.
Foi responsável por numerosos projectos de investigação nacionais e internacionais. Publicou mais de duzentos trabalhos em revistas, livros e conferências internacionais e nacionais.
É Coordenador Europeu do projecto Europeu Epilepsiae no programa FP7.

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