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#56 | AGOSTO 2011
PATRÍCIA NUNES
Responsável Financeira da GMV em Portugal
"A internacionalização constitui uma das melhores – e, em alguns casos, única – alternativas de crescimento para as organizações"

Quais os principais desafios que se colocam à gestão financeira de uma empresa como a GMV, a operar em diferentes sectores de alta tecnologia, e à subsidiária portuguesa em particular?
O actual ambiente de negócios exige que sejamos cada vez mais ágeis e flexíveis, fazendo mais com menos, adaptando-nos rapidamente às mudanças de forma a assegurar a competitividade da empresa. Na GMV, incluindo a subsidiária em Portugal, o principal desafio da gestão financeira é adaptar-se à evolução do negócio contribuindo para a melhoria e racionalização da própria organização, tornando-a mais eficiente e colaborando para a estratégica da empresa, mas sem sacrificar as funções críticas do negócio. A própria área financeira interage com outras áreas da empresa, avaliando os seus esforços (operações, vendas, engenharia…) e garantindo que os custos operacionais produzem os resultados esperados. Por outro lado, devemos garantir as formas de financiamento apropriadas para as nossas operações, numa conjuntura actual menos favorável.

À trajectória de crescimento da GMV, a operar em vários países, veio juntar-se, recentemente, a abertura de mais um escritório em Bucareste, abrindo-se assim, também, as portas para outros mercados da Europa de Leste. A internacionalização das empresas, nomeadamente aquela que é feita para mercados emergentes, pode indicar o caminho do crescimento e da competitividade?
Sim, a internacionalização constitui uma das melhores – e, em alguns casos, única – alternativas de crescimento para as organizações. A GMV tem, desde a sua criação, uma vocação internacional, contando com clientes em múltiplos países, representando as exportações uma percentagem muito elevada nos nossos negócios. A diversificação sectorial e a internacionalização são dois dos pilares fundamentais que sustentam o crescimento da GMV, permitindo obter economias de escala e contribuindo para a nossa competitividade global.
Em geral, uma boa estratégia de internacionalização foca-se nos mercados mais interessantes tendo em conta, também, a maturidade e qualidade do mercado de trabalho. Sem dúvida, os mercados emergentes representam boas oportunidades para consolidar o crescimento e a competitividade, sendo fundamental para cada organização a selecção dos mercados alvo.

A operar no sector aeroespacial, dos sistemas inteligentes de transportes e das TIC, onde a exigência é colocada na qualidade e excelência das soluções apresentadas, qual a postura da vossa empresa em relação ao vector inovação?
A GMV é uma empresa líder em muitos dos seus sectores de actividade. Como empresa líder, entendemos que o crescimento, a diferenciação competitiva e um melhor desempenho são as chaves para o sucesso empresarial. Dois dos aspectos fundamentais para o nosso posicionamento são a diversificação e a inovação, que constituem um dos melhores factores de diferenciação para o crescimento saudável das empresas e uma aposta estratégica da GMV, proporcionando uma vantagem competitiva e liderando a mudança na organização.
A GMV promove activamente a inovação na organização, considerando-a um elemento essencial no nosso modelo de negócio e nas operações fundamentais, em que a colaboração é indispensável para inovar. Tendo em conta as novas sinergias, soluções para clientes e aproveitando as economias de escala, obtemos finalmente os efeitos desejados. A inovação deve ser apoiada, alimentada e defendida pela gestão executiva de topo da empresa. Assim, destacamos esta aposta pela inovação que deve ser salvaguardada de conjunturas pontuais.

Considerando a aposta em Investigação e Desenvolvimento, enquanto condição favorável quer à internacionalização, quer ao desenvolvimento de actividades de valor acrescentado, como avalia a propensão das empresas portuguesas para o investimento em actividades de I&D?
Parece-me bem. É uma das melhores opções para consolidar futuros negócios de sucesso, tendo em conta a situação do país e a necessidade imperiosa de diferenciação e internacionalização. Contudo, a I&D deverá ter associada a apropriada transferência dos resultados para o mercado e a gestão dos riscos financeiros e programáticos.
A inovação, quando vista como a base da capacidade competitiva de criação de emprego de qualidade e coesão social num país, é sustentada, em boa medida, nos resultados da I&D, devendo continuar a ser uma forte aposta nacional mesmo no contexto actual. Contudo, Portugal conta com um suporte ao investimento em I&D limitado, assente na existência de alguns mecanismos de financiamento externo, como o QREN. E o investimento em I&D nem sempre é realista e prático, tendo em consideração o estado e a capacidade das empresas envolvidas em alguns projectos, criando frequentemente tensões nas mesmas.
Aparentemente, o investimento total em I&D quase que duplicou em Portugal entre 2005 e 2009, o que é extraordinário. É visível uma relação directa entre as empresas que mais investiram em I&D e as que contribuem para as exportações portuguesas. Mas, a percentagem de investimento em I&D ainda se encontra abaixo da média europeia e dos principais países líderes neste domínio.
Por um lado, é necessário um contributo maior, mais estruturado e eficaz por parte de fundos públicos (nacionais e europeus), sendo essencial utilizar recursos para promover a I&D e a inovação, numa lógica clara de inovação aplicada, promovendo a participação portuguesa em programas de investimento em I&D, o que tem demonstrado um impacto relevante na economia, estimulando a criação de postos de trabalho de qualidade, empresas inovadoras e novas soluções de alto valor acrescentado. É disto exemplo a contribuição portuguesa para a Agência Espacial Europeia. Por outro lado, é necessário fomentar a participação directa de entidades privadas, com uma política fiscal favorável.

Na sua opinião, quais as qualidades que fazem um bom Director Financeiro?
Um bom Director Financeiro deverá conhecer bem o negócio, os aspectos tecnológicos, a dinâmica do mercado e as perspectivas de risco, bem como compreender as áreas não financeiras do negócio e os drivers operacionais do sucesso futuro da empresa, para poder colaborar de forma activa na definição e implementação da estratégia.
Para além das competências financeiras, o Director Financeiro deverá ter capacidades de negociação e comunicação, assim como credibilidade para suportar a tomada de decisões e definir o padrão de comportamento ético dentro da organização.

No âmbito da Conferência Cockpit Management, o criador desta ferramenta, Patrick Georges, lembrava que “as crises são oportunidades”, nomeadamente, para o crescimento de algumas empresas. Num contexto como este, acredita que o Director Financeiro pode sair com um papel reforçado, apontando uma visão estratégica à empresa?
Em situações de crise, em que os recursos são cada vez mais escassos, o Director Financeiro tem cada vez mais um papel preponderante na tomada de decisões, na estrutura de custos e nas apostas que a empresa pretende efectuar, obviamente em colaboração com os restantes departamentos da empresa.
O Director Financeiro poderá ter um papel ainda mais importante, trazendo um ponto de vista distinto e demonstrando que os investimentos em tempos de crise poderão ser uma boa aposta. É da sua responsabilidade apresentar um plano para suportar a visão da empresa e encontrar formas de contornar a crise, descobrindo soluções inovadoras para os problemas que surjam.

No que concerne ao trabalho do Director Financeiro, impondo-se a qualidade da informação de contexto que é prestada no seu exercício de funções, entende que o investimento deve estar focado em ferramentas de análise analítica mais sofisticada?
Mais do que a necessidade de ferramentas de análise sofisticadas é necessário que a estrutura da informação esteja bem definida. Quais as suas fontes, os seus objectivos, quais os destinatários e o seu custo. É também necessário criar uma estrutura dinâmica que permita, facilmente, enfrentar novas necessidades e requisitos. Após esse trabalho prévio, é obviamente muito importante ter ferramentas que sejam fáceis de utilizar, acessíveis e perceptíveis aos utilizadores da informação. Para além disto, devem ser completas e capazes de satisfazer as necessidades cada vez mais exigentes por parte dos accionistas, clientes, bancos, etc.

Como Directora Financeira de uma empresa a operar em Portugal, como encara as medidas de austeridade, ao abrigo do programa de ajuda externa?
Pensamos que as medidas a implementar serão muito difíceis, no entanto, necessárias. Nomeadamente, os objectivos referentes à modernização de alguns sectores do estado, que necessitam de uma reforma urgente, de maneira a tornar os serviços mais céleres e que respondam às necessidades das empresas. Algumas mudanças estruturais, que nunca foram tomadas, poderão agora acontecer.
Para além disso, ao nível do crédito bancário, o mercado poderá enfrentar algumas dificuldades. Nomeadamente, nas condições de crédito praticadas pelos bancos numa conjuntura de crise, onde as flutuações e eventuais necessidades de tesouraria são maiores, muito devido ao alargamento do prazo médio de pagamento por parte de alguns clientes.
No caso particular da GMV e pelo nosso carácter exportador, achamos que os cortes nos investimentos do estado irão ter um impacto moderado, que trataremos de compensar com outros mercados.

Biografia
Licenciada em Economia pelo ISEG – Universidade Técnica de Lisboa e detentora de uma Pós-graduação em Auditoria e Revisão de Contas pela OVERGEST – Escola de Gestão do ISCTE, Patrícia Nunes iniciou o seu percurso profissional como Consultora, em 1998. Na GMV desde 2004, onde começou a exercer funções de Controller, é actualmente Responsável Financeira da GMV em Portugal.

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