Como tem evoluído a relação entre a universidade e o sector financeiro?
No sentido de uma cada vez maior proximidade. A nossa experiência é a de que há cada vez maior necessidade, por parte do sector financeiro, de profissionais na área das tecnologias de informação e comunicação. Em particular, nas áreas relacionadas com a gestão de informação e os sistemas de apoio à decisão. Hoje a grande prioridade consiste em transformar em conhecimento as grandes quantidades de dados que o sector financeiro possui.
O ISEGI Universidade Nova apresenta, no âmbito da sua oferta formativa, uma pós-graduação em Tecnologias de Informação e Comunicação para Serviços Bancários. Que objectivos estão inerentes a esta formação e que competências serão desenvolvidas ao abrigo da mesma?
Tal como já referi, as necessidades de profissionais qualificados na área das tecnologias continuam a crescer, pelo que esta pós-graduação visa preencher parte dessas necessidades. Mais concretamente, esta pós-graduação nasceu por iniciativa do BNP Paribas Securities Services e da Sybase que, confrontados com a escassez de talentos nestas áreas, desafiaram o ISEGI para, em conjunto, conceber e implementar esta pós-graduação. Como é óbvio, alguns dos objectivos em termos de formação e competências estão muito ligados às necessidades do BNP Paribas Securities Services, no entanto, pretende-se que os alunos obtenham uma sólida formação no domínio das tecnologias de informação, em particular nas áreas da programação, bases de dados e business intelligence. Estas são áreas onde existe uma grande necessidade de recursos e a procura continua a ser superior à oferta.
Esta é também a primeira formação académica on-the-job em Portugal. Formação e vivência empresarial devem estar cada vez mais próximas? À componente académica deve estar agregada uma componente prática?
Pessoalmente, acredito que há espaço para ambas as situações; formações mais orientadas para as necessidades do mercado profissional, mas também para formações com componentes teóricas mais intensas e direccionadas para a investigação. Penso que, nas últimas décadas, tem havido alguma dificuldade em adequar a formação universitária às necessidades do mercado laboral e isso tem tido custos importantes na economia do país. Esta pós-graduação é um exemplo do que se pode fazer quando as empresas e a universidade cooperam de forma aberta e entusiástica.
Encara que esta vocação prática da formação a torna mais adequada às necessidades do mercado de trabalho do sector? De que forma a experiência profissional do quadro docente pode contribuir para valorizar essa componente prática?
Certamente que, quando um programa de estudo é desenhado tendo em conta as actividades de determinadas organizações, o resultado final é um profissional mais capaz de, rapidamente, se integrar como elemento produtivo da organização. Nesta pós-graduação os alunos serão, desde início, integrados em projectos a decorrer no BNP Paribas Securities Services, o que assegurará uma integração efectiva entre a componente teórica e a componente prática da sua formação. O quadro docente é composto por professores do ISEGI, mas também por profissionais do BNP Paribas Securities Services e da Sybase, estes últimos trazem uma visão mais pragmática do dia-a-dia organizacional e um conjunto de conhecimentos, nomeadamente no que respeita ao negócio, insubstituíveis e que dificilmente encontramos nas universidades.
À garantia de um posto de trabalho para todos os formandos por parte de uma instituição bancária dada por esta pós-graduação está inerente um investimento na qualificação de recursos humanos. Entende que as instituições bancárias devem apostar cada vez mais em formação?
Pessoalmente, acredito que todas as organizações devem garantir condições que permitam a formação contínua dos seus recursos humanos. As instituições bancárias que competem em mercados globais altamente competitivos dependem ainda mais da qualidade e das competências dos seus recursos humanos. Ao equacionar as questões relativas à formação é indispensável ter em conta duas considerações relacionadas com o ambiente em que as empresas operam. O primeiro relaciona-se com a necessidade de actualização permanente dos profissionais, dada a rapidez com que o conhecimento é produzido e a forma como esse conhecimento afecta o funcionamento das organizações. O segundo relaciona-se com a relevância da inovação no aumento de produtividade e na capacidade competitiva das empresas. A inovação constitui o mais importante factor no aumento da produtividade, sem capacidade de inovação as empresas, nos mercados mais competitivos, terão muitas dificuldades em sobreviver. Sem formação adequada e regular é impossível mobilizar os recursos humanos para estes desafios.
Esta proximidade entre a universidade e as instituições bancárias pode colocá-las numa posição privilegiada na caça e gestão de talentos?
Sem dúvida. Aliás, no ISEGI temos vindo a sentir, ao longo dos últimos anos, uma cada vez maior preocupação por parte das empresas em identificar e garantir a contratação dos melhores alunos. Esta é uma preocupação relativamente recente, mas que se tem vindo a acentuar de forma muito significativa. No ISEGI, todos os anos, temos mais ofertas de emprego do que alunos que as possam aceitar. Apesar da empregabilidade dos nossos alunos de licenciatura ser de 100% ao fim de três meses, a verdade é que os que mais se destacam enquanto alunos são muito mais solicitados e têm diversas propostas de trabalho. Como é óbvio, as instituições bancárias, dada sua dimensão e prestígio, estão entre as que maior capacidade têm para atrair os melhores alunos. De qualquer forma, ao longo dos últimos anos, temos desenvolvido inúmeras iniciativas com instituições financeiras por forma a promover uma maior proximidades entre alunos finalistas e estas instituições.
* Conheça toda a entrevista na próxima edição da revista Interface Banca & Seguros.