Quais os desafios que se colocam à gestão financeira da Frigosistema, a operar na área da refrigeração industrial?
Os desafios que enfrentamos são os mesmos que se colocam à maioria das empresas actualmente: fazer mais com menos. A conjuntura económica que vivemos em Portugal obriga-nos a olhar quase diariamente para a nossa liquidez, dificultada em virtude dos prazos de recebimento cada vez mais dilatados, em contra ciclo com os prazos de pagamento a fornecedores que têm sido fortemente encurtados.
De acordo com um estudo da AESE (Escola de Direcção de Negócios)/Accenture, divulgado no início deste ano, quase 50% dos gestores portugueses apontava uma perda de competitividade das empresas portuguesas no ano de 2010. Partilha desta opinião?
Sim, completamente. Apesar das recentes melhorias introduzidas nos processos administrativos de relação com a tutela, que supostamente aliviariam a pressão sobre as pequenas organizações, foram criadas outras dificuldades e custos como, por exemplo, o acesso às plataformas electrónicas de publicitação dos concursos públicos, a aquisição e manutenção de certificados digitais válidos, entre outros. Estes obstáculos associados ao aumento dos custos dos factores de produção como a energia eléctrica, os combustíveis, as portagens nas SCUT levaram a um aumento da estrutura dos custos operacionais e, consequentemente, à dificuldade de manter ou aumentar competitividade no mercado.
Ainda que num contexto económico recessivo, o que entende ser possível fazer em prol da melhoria da competitividade das empresas lusas?
Neste contexto, temos que ser rigorosos em todas as nossas decisões relativas à redução de custos, não esquecendo nunca a importância do factor humano, da moral e da ética como impulsionadores da competitividade empresarial.
O mesmo estudo aponta como insuficiente o investimento das empresas portuguesas no exterior. Um dos caminhos para a competitividade pode ser o da internacionalização. Qual tem sido a postura da Frigosistema na procura de novos mercados?
Dado que os nossos produtos têm um cariz profissional, diferentes dos artigos de consumo massivo, temos sentido algumas dificuldades em introduzir produtos standard em mercados mais evoluídos do que o nosso. O que temos conseguido fazer é, dentro do nicho de mercado que representa a secagem de produtos alimentares, desenvolver parcerias que têm conduzido a alguns negócios, nomeadamente, no mercado russo, emergente nesta área.
Entendem a inovação constante enquanto pilar basilar da estratégia de consolidação e crescimento da empresa. Este investimento traduz-se numa maior robustez financeira da empresa? O que pode levar os gestores portugueses a investirem mais neste vector?
A inovação é, sem sombra de dúvida, um dos motores de crescimento do negócio. Pensamos que as empresas que não encarem a inovação como um factor crítico de sucesso estarão condenadas ao fracasso. Neste contexto, consideramos que a aposta na inovação não se trata de uma questão de escolha, mas sim de sobrevivência.
A vossa empresa tem apostado na implementação de soluções que promovam a desmaterialização de processos, como a facturação electrónica. Encara que a gestão do negócio já não pode sobreviver sem o investimento em ferramentas de TI e de apoio à decisão e gestão?
Sem dúvida. Existem inúmeras tarefas de compilação de dados que não seriam possíveis sem um apoio estruturado de registo e análise de dados. A implementação da plataforma de transacções electrónicas da YET trouxe-nos ganhos imediatos por automatizar as actividades associadas aos processos de facturação, de encomendas e de tratamento de documentos contabilísticos. Esta automatização teve impacto directo na redução dos erros, no aumento da produtividade e na diminuição dos custos. Mas tem sido muito difícil avançar, principalmente por uma atitude generalizada de não aceitação do processo por parte de entidades nossas clientes, mesmo aquelas a quem, sabemos de antemão, esta tecnologia lhes foi imposta nas suas vendas, sendo-lhe, portanto, familiar.
Fala-se em danos colaterais na economia, no curto prazo, resultante das medidas a implementar ao abrigo do acordo com a Troika e, em contrapartida, numa maior robustez para encarar o futuro. Como é que um director financeiro de uma PME que representam a maioria do tecido empresarial português antevê, neste contexto, a actuação destas empresas nos próximos anos?
A vida é como uma roda assimétrica no seu peso. Quando o lado mais pesado está na sua fase ascendente, como agora, tudo se torna mais difícil, sendo que o mais importante é manter o movimento. Uma vez ultrapassada esta fase, virá, com certeza, um período de mais oportunidades. Baseio esta minha expectativa na assunção de que a percentagem de volatilidade do mercado vai ser inferior à das empresas actualmente existentes, alavancada pelas alterações legislativas já anunciadas.